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Na Bat-Caverna aristotélica


Eis o super-herói símbolo da ética das virtudes de Aristóteles. Chamam-no de “super-herói”, mas ele não possui nenhum tipo de 'super - poder'”. Sua história de mais de 70 anos de existência atrai cada vez mais pessoas de todas as idades. E uma das razões pela qual Batman atrai tantos fãs é que ele é ‘apenas’ um ser humano. 

Um homem igual a nós, com a diferença de que, além de ser um personagem da ficção, ele dedicou toda a vida a vingar a morte dos pais e de todas as vítimas de crimes. Ele defende Gothan City arriscando constantemente sua própria vida, depois de passar anos de sacrifício e treinando o corpo e a mente para atingir o máximo das atitudes do que  um ser humano é capaz. Embora seja riquíssimo, nega a si mesmo este luxo e dedica-se ao objetivo que nunca alcançará[1].  

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            Bruce Wayne não quer ver outras crianças perderem os pais assassinados como ocorreu com ele próprio. Gothan City está nas mãos dos criminosos e corruptos, e com o espírito de vingança e justiça quer dar um basta nesta situação: ’quero mostrar ao povo que Gothan não pertence aos criminosos e corruptos[2]’.

            Decidido a combater as injustiças, o órfão Bruce Wayne viaja pelo mundo buscando recursos para combater a injustiça e amedrontar aqueles que semeiam o medo. Sua busca é inalcançável, embora reconheça que sozinho não alcançará seu objetivo. Ele próprio afirma que “para sair da apatia, as pessoas precisam de exemplos dramáticos. Mas não posso fazer isso como Bruce Wayne. Como homem, sou de carne e osso, posso ser ignorado e destruído. Mas como símbolo, posso ser incorruptível, posso ser eterno[3]”.

            Assim Bruce Wayne decide se tornar o justiceiro mascarado, libertando seu ego, se tornando Batman. Mas por que um jovem órfão milionário, gastaria suas noites pulando em telhados, percorrendo becos para acabar com a injustiça e violência de sua cidade? Eis uma resposta aristotélica a esta pergunta: para você se tornar um ser humano bom e virtuoso, precisa de bons exemplos a imitar.

 

Quando a prudência (sabedoria prática) é possível chegarmos à sua definição pela consideração das pessoas com as quais a creditamos. Ora, tem – se como característica do homem prudente ser ele capaz de bem deliberar sobre o que é bom e proveitoso para si mesmo, não num ramo em particular (...), mas o que é vantajoso ou útil como recurso para o bem – estar em geral[4].

 

            Bruce Wayne tinha na figura do pai o exemplo a seguir; na depressão, Thomas Wayne, quase fez sua empresa (Wayne Corporation), ir à falência, combatendo a pobreza. Pensava que, os ricos de Gothan City seguiriam seu exemplo e tentariam salvar a cidade. Mas com o seu assassinato, não pode cumprir este papel. Coube ao jovem Wayne esta tarefa de ser o exemplo para Gothan City e, Batman é este símbolo de mudança que toma para si a tarefa de inspirar as pessoas de Gothan City, para fazer com que a cidade possa ressurgir[5]’.

            Na perspectiva aristotélica, Batman é um ser virtuoso. Mas como ele se tornou tal? Lembrando que saber o que é virtude não basta, é necessário praticá-la porque os seres humanos se tornam bons e virtuosos assim, pela prática e repetição, assim como se adquirem as artes e os ofícios:

 

homens se tornam construtores, construindo casas e se tornam tocadores de lira tocando lira. Analogamente, nos tornamos justos realizando atos justos, corajosos realizando atos corajosos[6].  

           

Uma pessoa justa é alguém que com regularidade e confiabilidade pratica ações justas, e Batman é esta pessoa. Treinou corpo e mente para chegar à perfeição. Batman parece ser o exemplo de um ser humano virtuoso, tal como Aristóteles imaginou quando sugeriu que olhássemos para as pessoas virtuosas como referência para nos tornarmos moralmente melhores. Batman representa essa exemplaridade moral.

 

Ele é sem dúvida corajoso e inteligente. Tem um forte senso de justiça, é capaz de se manter controlado mesmo em meio a uma luta e está disposto a sacrificar sua própria vida e felicidade para fazer do mundo um lugar melhor[7]. 

 

            Heróis como Asa Noturna, Robin e outros heróis mascarados juntamente com o Comissário Gordon, seguiram a sugestão de Aristóteles e escolheram Batman como o ideal a ser imitado por suas ações e seu comportamento virtuoso, a fim de também poderem se tornar virtuosos.

            Mas Bruce Wayne sabe que sozinho não terá como tornar Gothan um lugar melhor para se viver, mas sabe que como Batman, pode vir a ser o exemplo para muitos, um símbolo da virtude, do ser moralmente incorruptível. Talvez todos nós devêssemos tentar ser um pouco mais parecidos com este ser fictício e agir como ele, na esperança também de nos tornarmos gradativamente mais virtuosos. Os super-heróis são um grande exemplo pedagógico acerca da vida virtuosa em sociedade, nos moldes da ética de Aristóteles.


    Para saber mais acesse AQUI.



[1] IRWIN, W. Batman e a Filosofia: O Cavaleiro das Trevas da Alma. São Paulo:Madras,2008. p. 13.

[2] Batman Begins. Direção: Christopher Noilan. Warner Bros Picture, 2005. 1 DVD (139 min.), color.

[3] Batman Begins. Direção: Christopher Noilan. Warner Bros Picture, 2005. 1 DVD (139 min.), color.

[4] ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 2ª edição. Tradução Edson Bini. Bauru, SP: Edipro,2007. VI, 1140

 a1, 25-28.

[5] Batman: O cavaleiro das trevas ( The Dark Knight). Direção: Christopher Noilan. Warner Bros

Picture, 2008. 1 DVD (152 min.), color.

[6] ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 2ª edição. Tradução Edson Bini. Bauru, SP: Edipro,2007. II, 1103

 b1, 2-5.

[7] IRWIN, Willian. Batman e a Filosofia: O Cavaleiro das Trevas da Alma. São Paulo:Madras,2008.

pág. 229.

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