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Filosofando com Vilôes: Magneto

 

    Um dos vilões mais temidos no universo Marvel, não poderia deixar de estar nesta análise.  Erik Magnus Lehnsherr, o Magneto, surgiu na revista X-men #1 de 1963, foi o primeiro vilão do time de mutantes.


            Magneto é um sobrevivente, sentiu o amargo ferrão da discriminação, passou sua juventude no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, durante a Segunda Guerra Mundial[1], por ser de família judia. Foi o único de sua família a sobreviver do Holocausto. Após, Erik Magnus promete a si mesmo que, não deixará que este horror se repita[2]. Após o termino da guerra Magnus, casou-se e teve uma filha, que acabou morrendo, quando bandidos impediram Magnus e sua esposa de resgatar sua filha de um incêndio. Consumido por dor e raiva, Magnus revidou com suas recém-adquiridas habilidades mutantes, matando seus agressores e inúmeras pessoas que a tudo assistiam[3].

            Em Israel, Magnus trabalhou como voluntário, ajudando a tratar sobreviventes do Holocausto, e foi lá que conheceu o Professor Charles Xavier. Os dois se tornaram amigos, com frequentes discussões sobre o rumo que os mutantes deviam ter. Os mutantes são seres humanos evoluídos, seriam o próximo passo da humanidade na escala evolucionista, “com gene mutante em seu DNA, com poderes em sua maioria, assustadores”[4], assim gerando medo nos demais humanos, pois estes temem o que é desconhecido, gerando assim preconceito e discriminação. Para Xavier há uma crença otimista que o Homo Sapiens e o Homo Superior (mutantes), poderiam coexistir, vivendo pacificamente. Porém Erik Magnus, “antevia os mutantes como a próxima minoria a ser perseguida por suas diferenças”[5]. Mesmo querendo partilhar com o sono do amigo, Erik Magnus, não conseguia ficar de braços cruzados diante das perseguições á mutante e vendo a história se repetir. Então se afasta de Xavier, e desde então, ele abandonou a crença na humanidade, passando a acreditar que somente dominando-a, os mutantes poderiam ter alguma chance de sobreviver. Magnus passa a atuar como terrorista Magneto, lutando a favor dos mutantes contra a humanidade, evitando assim a opressão de sua gente.

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            Charles Darwin (1809-1882), foi um naturalista britânico que alcançou fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural. Esta teoria culminou no que é, agora, considerado o paradigma central para explicação de diversos fenômenos na biologia. Em sua obra ‘A origem das espécies’, Darwin traz um resumo de suas ideias:

 

Não tenho dúvidas de que a visão que a maioria dos naturalistas possui, e que eu previamente também tinha, de que cada espécie foi criada independentemente, é errônea. Estou totalmente convencido de que as espécies não são imutáveis; mas que aquelas que pertencem ao que chamamos do mesmo gênero são descendentes diretas de alguma outra espécie, geralmente extinta, da mesma forma que as variedades reconhecidas de qualquer espécie são descendentes daquela espécie. Além disso, estou convencido que a Seleção Natural é o meio principal, mas não exclusivo, de modificação[6].

           

Nas HQs dos X-men, há um gene batizado de “fator X”, que é responsável pelas alterações no organismo dos seres humanos, na qual seria este o próximo passo da evolução humana, de Homo Sapiens para Homo Superior[7]. Tais questões acima apontadas por Darwin, são apresentadas nos quadrinhos dos X-men, a possibilidade de evoluirmos, que somos descendentes diretas de espécies anteriores, e/ou extintas. Não é por nada que Magneto chama os humanos de ‘baratas’, ou de ‘subdesenvolvidos’, por isso, esses (humanos), devem ser subjugados pelos mutantes (seres evoluídos). Para Magneto, os mutantes seriam o aperfeiçoamento da espécie, assim como Darwin apresenta em sua teoria:

 

Cada pequena modificação que porventura tivesse surgido com o passar do tempo, e que de algum modo favorecesse os indivíduos de cada espécie, adaptando-os melhor às condições naturais alternadas, tenderiam a ser preservada, e a seleção natural teria sido material disponível para começar a sua tarefa de aperfeiçoamento das espécies[8].

 

Para Magneto, subjugar os humanos, seria nada mais que, acelerar os processos evolutivos. Segundo ele, os mutantes são os melhores preparados, adaptados para a nova realidade, assim como disse Leon C. Megginson: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”[9]. As mudanças estão aí, e o Erik Magnus, acredita que, são os mutantes o próximo passo da evolução e por isso devem governar e não serem intimidados pela ‘ralé’ subdesenvolvida.

Magneto vivenciou várias tragédias, teve várias perdas, tudo por culpa do preconceito e discriminação. Por ter jurado que, este horror de ver pessoas sendo casadas e mortas por serem diferentes, jamais se repetirá, faz dele um vilão? Até que ponto, exercer uma ação de proteger sua raça (neste caso, a próxima evolução humana), daqueles que por medo, não o compreendem e assim discriminam, faz dele um vilão. A questão aqui, um vilão diante aos olhos de quem? Como nos capítulos anteriores, Martin Luther King, também foi visto como vilão, pelos brancos opressores; assim como o Partido dos Panteras Negras pela Autodefesa, também visto nos capítulos anteriores, chegou a ser considerado pelo FBI como inimigo número um dos EUA, porém este grupo somente queria defender os direitos civis dos negros no território norte-americano. Nesse caso poderíamos então pensar que, os seres humanos (Homo Sapiens), seriam os vilões da história? Pois são estes que inicialmente se colocaram contra os mutantes que, com Magneto na liderança, estão defendendo seu direito biológico e evolutivo de existirem. Pois a intenção de Magneto não é causar dor e morte aos Homo Sapiens, e sim defender sua existência, porém visualizam que o único caminho é tomando o poder, para assim, alcançar seus fins. Já os seres humanos não evoluídos (Homo Sapiens), estes sim, querem o extermínio da raça mutante.

Essa guerra entre Homo Sapiens e Homo Superior, está retratada diversas vezes em nossa história, foi assim com a perseguição de judeus, ciganos e demais etnias na Segunda Guerra Mundial; aos negros tanto nos EUA nas décadas passadas, como no Apatheid na África do Sul; aos cristãos no Império Romano; aos militantes políticos contrários ao governo nos Anos de Chumbo aqui no Brasil, entre outras que a história nos conta.

O verdadeiro sinal de vilania está nas adversidades vividas por muitos, neste caso de nossa análise do personagem Magneto, é a discriminação, racismo e preconceito os vilões da história. Tal vilão que infelizmente não está somente na ficção.

           

 

 

 



[1] MARVEL. Enciclopédia Marvel. São Paulo: Panini, 2002.

[2][2] PAK, Grek; Di GIANDOMENICO, Carmine. Magneto: Testamento. Barueri, SP: Panini, 2009.

[3] MARVEL. Enciclopédia Marvel. São Paulo: Panini, 2002.

[4] REBLIN, Iuri. Para o alto e avante. Porto Alegre, RS Asterisco, 2008. P.24.

[5] MARVEL. Enciclopédia Marvel. São Paulo: Panini, 2002. P. 217.

[6] DARWIN, Charles. A origem das espécies. São Paulo: Martin Claret, 2004. P.31.

[7] REBLIN, Iuri. Para o alto e avante. Porto Alegre, RS Asterisco, 2008.

[8] DARWIN, Charles. A origem das espécies. São Paulo: Martin Claret, 2004. P.111-112.

[9] Frase proferida por Leon C. Megginson, professor da Louisiana State University, num discurso em 1963, onde apresenta a sua interpretação da ideia central de "A Origem das Espécies" de Charles Darwin.

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