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A Morte de Deus

Deus existe? Eis uma questão que fica sempre no ar. Acreditar ou não; se não existe o por que de tantas religiões, tantos homens que crêem e glorificam um certo “Deus”.Freud diz que a religião é uma ilusão, que é derivada dos desejos humanos. O homem cheio de sofrimento, com medo de um destino, com um certo pavor de sua certa finalidade ou ainda para sua sociedade impor seus instintos certas restrições, cria um Deus, que tudo pode, onde podem ter um socorro, consolo, amparo e perdão por todo um sofrimento neste mundo real. O homem volta a sua fase infantil onde, anseia a figura de um pai, o Deus – Pai. Feuerbach reduz a teologia à antropologia, diz ele que Deus é o espelho do homem, pois o homem projeta suas necessidades e desejos a um ser metafísico, criado pelo próprio homem, então Deus nada mais é que elevar o próprio homem a Deus para o homem.Na Obra A Gaia ciência, Nietzsche anuncia que Deus está morto, pouco a pouco a sociedade ocidental foi se afastando de Deus e assim que o assassinaram, foi o próprio que o assassinou. Mas, matando Deus, eliminaram todos os valores que serviam de fundamento para a nossa vida e, consequentemente, perde – se qualquer ponto de referencia. Mas é com a morte de Deus, que Nietzsche anuncia a boa-nova à superação do próprio homem, o novo homem, o “super-homem”.Com o nascimento da ciência Deus começa a morrer, o homem que um dia foi expulso do paraíso por comer o fruto da árvore do conhecimento, após, expulsa Deus do centro do universo. De acordo com o Kant, o mundo só pode ser conhecido através de uma razão científica, e não através de uma linguagem em que Deus nos dá as normas do que pode ser feito e do que não pode ser feito.Deus se tornou um tapa-buraco do homem, ele está nos lugares onde a ciência ainda não explorou. A religião seria uma busca de felicidade, consolo e conforto, neste mundo onde Há sofrimentos e discórdias, onde a existência de um certo deus tem uma expressão de solidariedade com o sofrimento humano, onde por se tratar de sofrimento e miséria do homem, ela se torna como nos diz Marx o ópio do povo.






Teologia antropológica






A morte de Deus passou a ser um símbolo para exprimir aquela experiência humana que outros tempos fazia uso do símbolo “Deus” para articular-se.Querendo ou não, somos, em parte, o passado que herdamos. É isto que nos torna seres históricos. A tradição grego – hebraico – cristã que nos formou, de forma consciente ou inconsciente, faz parte do nosso ser. E a palavra ´Deus` desempenha uma função crucial na sua estruturação. Quando falamos da morte de Deus, não podemos evitar que imirjam imagens que indicam o colapso de uma tradição cultural: o universo perde o seu centro, um cortejo fúnebre que atravessa os espaços cósmicos e metafísicos, outrora carregados de sentido, agora frios, vazios, silenciosos, com o apagar do seu sol; o réquiem silencioso que os hostes celestiais ausentes entoam diante da morte da própria vida.O que está em jogo é a constatação de que as estruturas de pensamento e de linguagem que o teísmo oferecia entram em colapso. Chegou ao fim uma certa visão do universo. Uma maneira de pensar a vida, de encarar os seus problemas, e conseqüentemente de falar. O cristianismo, na realidade, já desapareceu a muito tempo não apenas da razão, mas da própria vida da humanidade, afirma Feuerbach, no prefácio de sua obra A Essência do Cristianismo.“O cristianismo nada mais é que uma idéia fixa, numa flagrante contradição com nossas companhias de seguro de vida ou seguro contra fogo, nossas estradas de ferro... nossas galerias de pinturas e escultura, nossas escolas militares e de engenharia, nossos teatros e museus científicos”. Na realidade, um mundo que já compreendeu que a natureza é previsível, manipulável, racionalizável, já enterrou uma realidade ‘a mercê da intervenção miraculosa do dedo de Deus. O diagnostico do herético Feuerbach é retomada por Bonhoeffer nas cartas que escreveu na prisão: “... cada vez se torna mais evidente que tudo funciona normalmente sem deus. Já se admite que o conhecimento e a vida são perfeitamente possíveis sem ele. Desde Kant ele foi relegado à esfera para além da experiência”.O problema da morte de Deus é metafísico, sem dúvida. Mas a metafísica, não é ela o produto do perguntar do homem a cerca da realidade? Respostas só podem ser compreendidas em função das perguntas que são levantadas. Por isso, a morte de Deus é, antes de mais nada, um problema antropológico. Ele indica que há certas perguntas que são feitas cada vez mais nada, um problema antropológico. Ele indica que há certas perguntas que são feitas cada vez mais com menor frequência. A morte de Deus, assim, se apresenta como um silêncio túrgido de significações antropológicos e sociais. Vivemos numa época que proibiu o mistério, que relegou aos primitivos, ignorantes e doentes. Porque o grande dogma do mundo que se chama científico é que a realidade é auto-explicativa, e que a razão dispõe dos instrumentos para decifrar o enigma que lhe é proposto. Talvez que, ao invés de falar da morte de Deus, seria mais correto falar do eclipse de Deus. Entramos dentro do problema; e para tal fim creio que ninguém, melhor que Feuerbach, como mestre de cerimônia.Feuerbach foi uma estranha combinação. Religioso e ateu ao mesmo tempo. Para nossos hábitos mentais aqui estão duas atitudes que se excluem. Para ele, o contrário, são atitudes que se pressupõem: ateu porque religioso.O homem, segundo Feuerbach, é um ser dividido. É isto que o distingue dos animais. Dividido por não ajustar-se às condições concretas em que se encontra lançado. Conflito permanente entre essência e existência. Por isso transcende-se. E este transcender – se expressa em sua vida mental. O homem, diferentemente dos animais, não é apenas um reduplicador de dados. O homem projeta, cria imagens que não correspondem aos fatos do mundo exterior. Ele projeta o que existe reprimido e latente em sua própria natureza, suas potencialidades não realizadas em sua experiência histórica. Segundo Feuerbach, esta divisão se dá por o homem ter uma diferença essencial dos animais, a consciência, tomado no sentido rigoroso. Neste ponto, apresenta duas espécies de consciências, uma própria do ser humano, consciência no sentido rigoroso, e outra que está presente também nos animais, em sentido amplo.Consciência em sentido amplo seria o sentimento de si próprio, o discernimento sensorial, que também caracterizaria os animais. Segundo Feuerbach, o animal pode ser objeto para si, não como gênero, mas apenas como individuo. A consciência, porém, em sentido rigoroso existe somente quando, para um ser, é objeto o seu gênero, a sua quididade.A consciência está relacionada, segundo Feuerbach, com o saber. O homem, diferentemente do animal, possui uma vida dupla, uma interior e outra exterior, devido à sua consciência. A vida interior do homem é a vida relacionada com o seu gênero, com sua essência, afirma:“O homem é para si ao mesmo tempo EU e TU; ele pode se colocar no lugar do outro exatamente porque o seu gênero, a sua essência, não somente a sua individualidade, é para ele objeto”.A religião tem como pressuposto, como aqui Feuerbach nos mostra, a consciência em sua especificidade e que, portanto, a essência humana é o fundamento da religião. Mas, além disso, se a consciência é o fundamento da religião somente em sua especificidade humana, isto é, enquanto tem como objeto seu próprio gênero, resulta que “a essência do homem, em contraste com a do animal, não é apenas o fundamento, mas também o objeto, da religião”, pois a consciência, como fundante da religião, leva em si o objeto, é autoconsciência, consciência do gênero.Feuerbach se coloca, desta forma, em radical oposição ao positivismo que identificava o real com os objetos oferecidos à contemplação, e que, necessariamente reduz a imaginação a uma função alienante. O homem pensa o seu real não através de um ato de conformação às suas condições. Isto é o caracteriza os brutos: sua incapacidade para transcender. O homem, ao contrário, expressa a sua humanidade no ato pelo qual suas funções psíquicas colocam diante dele mesmo a sua essência, negada pelas condições da existência. É isto que é a religião. A “religião”, diz-nos ele, “é o ato pelo qual o homem se separa de si mesmo e no qual ele contempla a sua natureza latente”. Deus é o símbolo para a resposta à pergunta: “quem sou?” “O que o homem declara acerca de Deus, ele na realidade afirma acerca de si mesmo”. Se a religião é um espelho, Deus é a imagem que o homem, neste ato de transcender-se, projeta de si mesmo. Pode-se assim dizer: “E o homem criou Deus à sua imagem e semelhança”.Até aí não existe quase nada de radicalmente novo na interpretação de Feuerbach. A teologia, no passado, frequentemente se referia a Deus como o summum bonum, como a resposta à sede do homem por mais ser. Desde Santo Agostinho tal idéia era comum e ortodoxa no pensamento cristão. Mas Feuerbach dá um passo a mais e rompe a estrutura toda do sistema. E isto acontece quando ele pergunta acerca da origem das idéias, e portanto acerca da significação da linguagem.O que é linguagem? De onde vem as idéias que a formam? Ao contrário dos filósofos que construíam mundos para além do nosso a partir de suas idéias, que mediam a realidade do pensamento na razão direta de sua imaterialidade, que “arrancavam os olhos a fim de ver melhor”, Feuerbach declara: uma análise da gênese das idéias revela que as idéias não descem dos céus para a terra, mas sobem da terra, mas sobem da terra aos céus. “A religião é um sonho da mente humana. Mas mesmo nos sonhos não nos encontramos no vazio ou nos céus, mas na terra, na esfera da realidade”. Os símbolos da imaginação não existem independentemente. Eles devem ser sistematicamente reduzidos às suas raízes vitais. E esta é o ponto fundamental da crítica de Feuerbach: a teologia ignora a gênese das idéias. Em conseqüência ela atribui uma realidade separada e autônoma a Deus, como se ele fosse um objeto em si. Não percebe que por detrás do símbolo Deus está um mecanismo de projeção do homem, e não de revelação de um mundo além. Deus é o “o diário onde o homem registra os seus mais altos pensamentos e sentimentos, o álbum genealógico onde inscreve o nome das coisas que lhe são mais caras e sagradas”. A conclusão de sua análise é inevitável: “teologia é antropologia”. “O teismo é o segredo da própria religião”.O ateísmo de Feuerbach é algo totalmente distinto do ateísmo clássico. Ele compreende que o pensamento não pode transcender os limites que são impostos pela existência. Nas linhas da filosofia crítica de Kant, entende que a linguagem só pode se referir ao mundo das experiências. Por isso, a sua hermenêutica exige que todos os símbolos que parecem apontar para o além sejam traduzidos como projeções do aqui. Mas, mais do que isto, em oposição aos positivistas, feuerbach entende que a linguagem não é uma simples cópia do que é contemplado.A religião seria nada mais que uma fantástica criação da mente humana, totalmente destruída de significações, por não se referir a objetos exteriores ao sujeito. Feuerbach diz que a linguagem religiosa, muito embora não tenha objetos exteriores como ponto de referencia, possui uma significação por ser uma expressão de um objeto a um tempo interior e universal: a essência do homem. É por isso que fantasias e sonhos têm sentido. Eles expressam esta essência, e por isto mesmo assumem a forma de transcendência sobre as condições da existência. Assim a religião é um sonho da mente humana, e se Deus é um ator que a mente cria para representar neste teatro da imaginação, ela é a mensagem enigmática que a essência do homem que pode vir a ser no futuro, dirige ao homem que existe no presente.O fato é que a linguagem nem pode ser entendida como uma coletânea de instantâneos do mundo, e nem como uma serie de instantâneos da essência psicológica do homem. Ela reflete antes uma relação entre o homem e o mundo. E isto porque o mundo nunca é acessível a si mesmo, como pensava Descartes, a não ser como homem-em-relação-ao-mundo. Linguagem não é arte fotográfica: é interpretação.“Contra positivismo que se detém diante dos fenômenos dizendo ‘há somente fatos', eu (Nietzsche) diria: não, são precisamente os fatos que não existem, mas apenas interpretações...”Como ser-no-meio-do-mundo o homem apreende este mundo como um problema, uma mensagem, um desafio, mas nunca como uma simples imagem. É o homem que compreende e interpreta o mundo e por meio deste ato o constrói para si. É esta relação que a linguagem articula. Não se pode, portanto, admitir que a linguagem religiosa seja o resultado da projeção de uma essência interior e inata ao homem (e, portanto a-histórica), pois a consciência não é uma entidade auto-suficiente, mas o resultado de um relacionamento. Se assim entendemos o nascimento da linguagem, entendemos neste mesmo ato o nascimento de Deus.




O nascimento de Deus






Segundo Freud e Jung, uma das principais funções da religião (após a criação de Deus), é defender a civilização da hostilidade humana. Os sofrimentos que as pessoas suportam exteriormente, das forças da natureza, e interiormente, das restrições que a sociedade impõe a seus instintos, são num certo grau compensados, de um lado, pela personificação dessas forças adversárias em deuses não tão diferentes de nós, que a religião faz, e, de outro, por sua transmutação dos desejos libidinal e agressivo advindos do id no amor ao próximo e na ética da consciência. Essas idéias convergem agora no desejo final e mais potente que a religião satisfaz: o anseio pela figura do pai.Isso já foi assinalado pela função da consciência. A autoridade exercida sobre o ego pelo superego e os sentimentos ambivalentes de dependência e de apreensão que isso gera são, segundo Freud, reanimações da relação com o pai. Quer dizer, o superego enfrenta o ego tal como um pai severo enfrenta o filho. Porém, mais do que isso, o sentimento de culpa, aparentemente para o superego é necessário à construção da consciência, não é simplesmente derivado da incapacidade do indivíduo de encontrar os instintos libidinal e agressivo de seu id; ele vem também de um remorso original e coletivo por um ato original que envolve o pai. Voltamos assim a um velho tema. A culpa é também um legado histórico, um fenômeno fundamental de nossa vida emocional adquirido pela raça humana como uma herança psíquica transmitida de geração a geração.Por esse caminho olhamos à teoria da horda primitiva, e Freud situa a religião no circulo do complexo paterno. A exigência de um Deus como figura do pai segue um protótipo infantil na repetição (ontogenética) da impotência que cada uma sente diante do próprio pai; e essa exigência é ao mesmo tempo uma repetição (filogenética) da relação do pai com o filho na horda primitiva. Assim, trata-se de uma situação que pode ser tudo menos nova, e que tem continuidade quando a pessoa amadurece. Quando passam da infância à idade adulta, os indivíduos percebem que permanecem impotentes e necessitam de uma contínua proteção. Agora, no entanto, o sentimento de impotência é criado pela própria natureza e pelas restrições impostas pela sociedade. Assim, eles revertem à solução da infância, criando um ser supremo dotado de todos os atributos de um pai: “Quando descobre que está destinado a permanecer criança para sempre, que nunca poderá viver sem proteção contra estranhas forças superiores, o individuo em crescimento atribui a essas forças as características pertinentes à figura do pai; ele cria para si mesmo os deuses que teme, aos quais procura agradar e aos quais, não obstante, confia sua própria proteção. Logo, seu a anseio por um pai é um motivo idêntico à sua necessidade de proteção das conseqüências de sua fraqueza humana. A defesa contra a impotência infantil empresta as características à reação do adulto à impotência que ele tem de reconhecer, uma reação que é precisamente a formação da religião”.Vale a pena enunciar a razão por que a imagem do Deus-Pai tem tal caráter compulsivo particular. Ela é a realização de um desejo, e a realização de desejo traz satisfação; mas a potencia peculiar da satisfação obtida pela crença religiosa consiste no fato de que ela alimenta os desejos e fantasias da mente infantil derivados de seus instintos libidinal e agressivo recalcados em relação ao pai. Nesse sentido, a crença no Deus – Pai duplica as neuroses das crianças e, tal como elas, vem do complexo de Édipo. No primeiro caso, o pai é aquilo que se gostaria de ser; no segundo, o pai impede que se tenha o que gostaria de ter. Essa ambivalência é projetada diretamente no conceito de Deus. De um lado, Deus pai é o objeto de amor e admiração, o ideal do homem, aquele que tem o poder de realizar todo desejo; e, de outro, ele é a autoridade negativa, o censor que tudo vê, que proíbe nossos desejos e pune com severidade quem transgride seus mandamentos. Nessa projeção, o fiel está, pois, revivendo as relações emocionais originárias do período recalcado de sua infância, assim como está transferido, para a figura paterna divina, atitudes e disposições que também são parte da memória coletiva da humanidade. Deus pai torna-se a reencarnação das relações que cada um de nós tem com seu pai e, além disso, com o pai ancestral da horda primitiva; e a força do desejo de acreditar nele deriva da força dos desejos instintuais e dos recalcamentos envolvido nessa relação. A crença, por assim dizer, atrai para si esses desejos recalcados e a culpa que a eles se associa e projeta no mundo uma figura a cuja vontade e a cujos mandamentos nos submetemos de bom grado, em parte por causa da segurança que isso traz e, em parte, porque podemos assim reparar os crimes cometidos contra ele e contra todo pai. A religião é, em conseqüência, uma fantasia nascida da vontade de obedecer, uma obediência celebrada em rituais obsessivos e práticas piedosas. É assim que nasce Deus.






A morte de Deus






Deus morreu. Mas ele nasceu também. Nasceu como parte da história do homem, como símbolo que as culturas criaram para fazer sentido do seu mundo. Sua morte, portanto, é um evento, não da história dos deuses, mas da história do próprio homem. Foi o homem que mudou. Enfrenta o seu mundo de forma diferente, percebe-o de forma diferente. Não foi Deus que morreu, mas o homem que um dia fez uso desta palavra para orientar-se no mundo. Isto significa que um outro homem está se formando, um homem que vê com olhos diferentes, que busca horizontes diferentes.A “morte de Deus” que em Feuerbach e Freud e também em Marx aparece como um atarefa, em Nietzsche se transforma no simples anúncio da boa nova.“Sentimos como se um novo dia estivesse raiando ao receber as boas-novas de que ‘o velho Deus morreu’; nosso coração transborda com gratidão, assombro, antecipação e expectativa. Por fim o horizonte se apresenta novamente aberto a nós, muito embora ele não esteja muito claro: por fim nossos navios podem se aventurar pelo mar e fora, para enfrentar qualquer perigo; toda a ousadia do amante do conhecimento é permitida novamente; o mar, o nosso mar, está aberto novamente”.Nietzsche era, antes de mais nada, um amante da terra, da vida, da liberdade. Com a visão de profeta que o caracterizou, ele pode perceber que a história da civilização ocidental era uma fantástica história de repressão. Segundo Nietzsche, isto significou que a familiaridade com as raízes mais espontâneas da vida (características do estilo dionísiano de vida), foi reprimido pelo estilo apoloniano: o triunfo da forma, do limite, sobre a vitalidade e espontaneidade. Toda sua obra é assim um protesto contra a repressão e uma celebração da vida. É preciso que a terra seja transformada num local de recuperação onde o homem possa ser devolvido ao “sentido erótico da vida”, ou seja, a libertação do corpo para uma relação de prazer com o mundo todo que o cerca, mundo de cores, sons, perfumes, gostos, carícias. Ora, Nietzsche compreendeu que toda esta estrutura de repressão que funcionou na civilização ocidental estava inseparavelmente ligada a uma estrutura religiosa. Em nome de Deus nega-se à vontade, a espontaneidade; o ideal cristão é a obediência, o camelo que aceita que aceita todas as cargas sem reclamar. Em nome de Deus nega-se o tempo, porque o seu mundo é o mundo da eternidade. Em nome de Deus nega-se a liberdade ao homem para criar um futuro novo, porque todos os valores já haviam sido codificados no passado. É por isso que ele anuncia o super-homem, o homem que terá coragem para afirmar a sua vida e sua liberdade contra todas as estruturas de repressão que nossa civilização criou. A coroa de toda esta estrutura era o nome de Deus. Graças a este nome a repressão se tornava sagrada e a condição de oprimido se tornava em virtude. Conseqüentemente, a “morte” deste nome trazia consigo mesma o começo do fim das estruturas de repressão. Elas perdem o seu caráter sagrado, e o homem, até então na condição de camelo, está livre para transformar-se no leão que haverá de destruir o dragão que o oprime. Depois disto, então, os horizontes se abrem. O homem se reconcilia com a terra e a fertiliza com o seu amor. É por isto que para Nietzsche o anúncio da morte de Deus tem a qualidade de uma “boa-nova”, porque ela significa permissão para a vida, para o mundo, para o futuro.Com a morte de Deus, nasce o homem livre e com a coragem para conhecer e dominar tal mundo. Transformação fundamental. De santo a cientista.Com o nascimento do cientista, Deus começa morrer. Muito embora os cientistas freqüentemente se recusem a confessar, eles têm de aceitar a sua cumplicidade no assassinato. Todos se lembram do conflito entre Galileu e a igreja. Todos são unânimes em condenar a igreja. A questão não era uma verdade científica a menos ou a mais. Galileu estava demolindo a própria habitação de Deus. Depois dele Deus nunca mais teve moradia certa. Expulso do centro do universo, não lhe resta hoje nenhum lugar senão nas margens da existência, onde a ciência ainda não chegou. O homem que um dia foi expulso do paraíso por comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal, se vinga agora comendo da árvore do conhecimento do universo, e com isto expulsa Deus do universo que ele habitava. Nasce o novo homem então; mas quem é este novo homem? É um homem que experimenta uma hilariante sensação de liberdade e permissão. Se o universo não é mais parte de uma estrutura sagrada, se a igreja não tem mais o direito de se proclamar guardiã das estruturas da ordem hierárquicas, o mundo deixa de ser um tabu. Ele é profano. Nada há nele que impeça o exercício da liberdade humana para conhece-lo e domina-lo. Seculariza-se o mundo e seculariza-se o conhecimento.




Conclusão






Todos os tradicionais argumentos para provar a existência de Deus, nenhuma validez cientifica tem. Deus é expulso do mundo cientifico e da existência secular do homem. Se o mundo em que vivemos, mundo espaço e tempo, de acordo com Kant, é o mundo que só pode ser conhecido e dominado em termos da razão cientifica, a linguagem acerca de Deus se torna cada vez mais inaudível nos círculos intelectuais. O Deus que com o seu dedo fazia milagres e respondia orações ficou sob os escombros do edifício medieval. Assim, oração nada mais é que uma ilusão supersticiosa num mundo que não é vulnerável aos nossos desejos se torna antropológica como diz Feuerbach; e a religião só pode sobreviver como moralidade, nos reconhecimentos divinos. Da ordem universal quase nada sobrou. Ela é substituída por um mundo horizontal, profano e sem forma a ser construído pela razão cientifica e pelas disposições morais do homem.Eis aqui o homem que crê dispõe dos instrumentos para conhecer e o poder para realizar! Não importa que o edifício pronto, construído por Deus, tenha caído. A tarefa agora é construir a cidade dos homens. E da razão sairá não apenas a forma da nossa ordem como também a determinação para realizá-la. Nesta esperança se formou a Revolução francesa para destruir os últimos resquícios de uma ordem velha para inaugurar uma nova era. Observa-se aqui uma secularização da esperança escatológica cristã, formulada por Agostinho. Se em Agostinho é possível e necessário ter esperança porque a história é um drama presídio pelo Deus que a levará à consumação, agora Deus não é mais necessário porque a razão é imanente à história. O homem pode ter esperança porque a razão é mais forte que o animalesco, os imperativos morais mais poderosos que os estímulos instituais. E para dar mais ímpeto ainda a esta visão triunfalista da história que caminha adiante de sem auxilio de Deus, surge à teoria da evolução orgânica que faz a imaginação explodir de euforia. Se o reino orgânico dos instintos apresenta um padrão de progresso ascendente, se a somente do aperfeiçoamento e da seleção lhe é imanente, o homem pode ter a certeza de que a ordem que ele constrói evoluirá de forma a transformar-se na cidade de Deus. Aqui a exuberância racional e vital do homem vai lado a lado com o exílio de Deus. Deus tem que ser pensado somente como um tapa-buracos. Na medida em que o homem avança vitorioso, com o seu conhecimento, Deus faz novas retiradas estratégicas para aquelas fronteiras ainda não exploradas pelo homem, na esperança de que ali, talvez, ele poderá voltar a desempenhar o papel que desempenhou no mundo medieval.O que é a religião? Ela não é uma criação da fantasia do homem. Suas raízes se encontrar nas condições reais do mundo. Por isso ela é a expressão de uma condição real de sofrimento e protesto contra o sofrimento real. Portanto, para concluir, nesta famosa frase de Marx: “A miséria religiosa é, por um lado à expressão da miséria real e, por outro, o protesto contra essa miséria. A religião é o gemido da criatura, acabrunhada pelo mal, é a alma de um mundo sem coração, e é o espírito de uma época sem espírito”.Vejo que Marx foi fortemente influenciado por Feuerbach, quando diz que: “Deus é o optativo do coração humano tornando tempo presente, ou seja, bem-aventurada certeza, é a despreconceituosa onipotência do sentimento, é a suplica atendida, o sentimento que se escuta a si mesmo, é o eco do nosso grito de dor (...). É aqui que ele expressa os segredos que os segredos que o sufocam, é aqui que ele alivia o seu próprio coração oprimido. Esse conforto do coração, esse segredo que pode se revelar, esse sofrimento que pode se expressar, isso é Deus. Deus é uma lágrima de amor derramada no quais profundo segredo sobre a miséria humana”.Então Marx conclui que “... a religião é o ópio do povo”.Sempre que há um eventual problema, recorremos á um pai protetor, na qual a figura de Deus se encaixa perfeitamente. Necessitamos de alguém para nos proteger, uma necessidade infantil de pai nos acudindo, assim nasce à figura de Deus.Mas com a chegada da ciência, onde podemos explicar o mundo com comprovações cientificas, não precisamos mais recorrer aos mitos para explicar o nascimento das coisas, não precisamos de Deus para nos proteger, já possuímos seguro de vida, temos a medicina para nos auxiliar nossos problemas de saúde. Com isso, Deus está largado na margem da sociedade aonde, a ciência ainda não chegou, digamos que Deus está morto e só ainda não foi enterrado, estão velando o seu corpo esperando a sua ressureição.

Comentários

Com certeza este texto é polêmico, mas não estou ai para divulgar o ateísmo e sim fazer reflexões.

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