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Por que fingirmos não ver

Foram duas perguntas que repetidamente são feitas em relação à minha vida: Qual a minha lembrança mais remota e, o que me motivo a me envolver nos movimentos sociais? Bom, as duas perguntas têm a mesma resposta.
Tinha eu, meus cinco ou seis anos de idade, e estava voltando ou indo (não me lembro direito) para casa de minha avó, que morava ali perto do antigo Fórum da cidade de Montenegro. Passando em frente à farmácia SESI (onde hoje fica a sede administrativa do SESI), um fato ocorrido ali, me chamou a minha atenção, e me emociona ainda hoje, me traz certa indignação, e por que não me fez tornar rumos em minha vida.
Um senhor, de idade avançada, um idoso, estava subindo em sua bicicleta, quando ocorreu o fato que chamou a minha atenção, a lembrança mais remota de minha vida. Ao subir em sua bicicleta, saindo da farmácia, aquele senhor, deixou cair o frasco de medicamento, que por ser de vidro, se quebrou ao chão. Lembro-me ainda bem da cor daquele liquido, algo branco, misturado com as lágrimas daquele senhor que o deixara cair.
Naquele momento, fiquei curioso, pois não entendia o porquê daquelas lágrimas, todos passavam em sua volta, mas ninguém veio a consolá-lo, pelo contrário, procuravam não pisar por cima daquele liquido manchando a calçada. O senhor com as lágrimas se misturando com o líquido daquele medicamento, recolhiam com as mãos os cacos de vidro do recipiente, talvez para ninguém se machucar. Mas ninguém entendia aquele dor, naquele momento, daquele senhor, nem eu entendia, mas sentia um dor também dentro de mim, um aperto em um pequeno peito, que haveria de crescer com aquilo.
Os anos foram se passando, e de minha memória, aquele fato não saia, com o passar do tempo fui entendo a situação, e o verdadeiro motivo daquelas lágrimas. Forçando a memória, vem o sussurro daquele senhor, “como vou salvar minha véia, agora!!!”, Entendo a situação, me indignava cada fez mais, me faz imaginar, quantas pessoas vivem na mesma situação? Estas pessoas, os idosos, que deram tudo de si para a sociedade, onde hoje ela lhe dá as costas, finge não os ver, como se não valessem mais nada. Seu sustento, migalhas que chamam de aposentadoria, não cobre as despesas de alimentação, imagina o da saúde.
Este fato histórico me fez escolher um caminho diferente, um caminho de ação, e não um caminho de um bundão, onde poderia hoje estar sentado em uma cadeira estofada em uma sala bem decorada, recebendo o dinheiro destes oprimidos e quando perceber esta realidade, dizem que isso é assim mesmo, pois para alguns estar por cima, outros terá que estar por baixo, como escutei isso de um bacharel em saúde médica recentemente. Bem, não quero “subir na vida” então, já que para este “subir” teria que pisar em cima de outros para me sentir no alto. Pobres destes esquecidos, que necessitam destes bundões para auxiliá-los em sua saúde.
Quando teremos um comportamento diferente com aqueles que lapidaram a estrada onde hoje passamos? Quando terão o seu reconhecimento de luta árdua, que suavizou o caminho para nós? Quando terão uma vida digna, e poder viver uma velhice saudável, sem preocupação de como vão poder adquirir medicamentos para curar seus males?
Existem medicamentos para os males da sociedade? Ou estes medicamentos escorrem pelos bueiros misturados com lágrimas?

Comentários

Vera disse…
Gostei do tom do texto. Mostra um certo ar d epreocupação com aqueles que "lapidaram o nosso caminho".

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