Por Paulo Kobielski
Um dia desses refletia com um velho amigo sobre as gerações que se maravilharam, assim como eu, naquelas belas tardes de sua infância com as magníficas aventuras de Space Ghost, Scooby-Doo, A Formiga Atômica, Jonny Quest, Os Impossíveis, Josie e as Gatinhas, a Corrida Maluca, Esquilo Sem Grilo, Frankenstein Jr., Os Fintstones e mais de uma centena de desenhos animados produzidos por Hanna – Barbera.
Aquele estúdio que começou timidamente no final dos anos de 1950, mas que nas décadas seguintes nos trouxe um universo fantástico com personagens cativantes e carismáticos, com histórias que nos prendiam até o último segundo. Era uma delícia. Êxtase total. Só faltava voar como o Homem-Pássaro, detonar os alienígenas com os raios vindos dos braceletes de Space Ghost ou descobrir o vilão no final de um episódio de Scooby – Doo. Eram aventuras de curta duração, mas preenchiam cada espaço da alma daqueles meninos e meninas. Não faltava mais nada naqueles dias, além de esperar e poder assistir o próximo episódio.
Mas pasmem. Não vou enganar vocês, prezados leitores. Durante muito tempo, lá nos jurássicos anos de 1970, eu e mais uma legião interminável de consumidores vorazes de desenhos animados tínhamos plena convicção de que, quem havia criado aqueles imaculados desenhos de personagens fantásticos, era uma mulher. Sim, uma mulher. Pois aqueles dois nomes: Hanna e Barbera, que apareciam na abertura ou nos créditos finais de cada episódio, eram muito sugestivos. Talvez vocês possam imaginar que éramos ingênuos e “tapados” ou coisa e tal. Mas o certo é que as informações não chegavam tão facilmente aqui no Brasil. Os tempos eram outros. Para começar, poucos tinham aparelhos de televisão em casa - lembro de inventar trabalhos escolares para poder ir na casa de um amigo e poder assistir Space Ghost e os Herculóides.
A TV era em preto e branco e só fomos conhecer a cor dos uniformes dos nossos ícones das telinhas, quando a editora Abril Jovem começou a publicar esses personagens nas páginas coloridas do gibi Diversões Juvenis, que apresentava “Super-Heróis da TV”, de Hanna – Barbera e que ganhou revista própria em junho de 1975, mas com o título encurtado para “Heróis da TV”, com numeração reiniciada. Essas histórias em quadrinhos que eram editadas nos Estados Unidos pela Dell/Gold Key, na revista Hanna-Barbera Super TV Heroes entre 1968 e 1969, traziam a versão em quadrinhos dos desenhos animados com roteiros de Jerry Siegel – sim, o criador do Superman -, Don R. Christensen, e desenhos de artistas como: Dan Spiegle, Sparky Moore, Mike Royer, entre outros.
Só muito tempo depois, antes do advento Internet, é claro, é que fomos desvendar o grande mistério da humanidade: Hanna-Barbera não era uma mulher, eram na verdade os cartunistas norte-americanos William Hanna e Joseph Barbera. Os dois haviam se conhecido em 1937 e começaram a trabalhar juntos no estúdio de animação da Metro-Goldwyn-Mayer em 1939. Na década de 1940, enviaram seus desenhos para Walt Disney, que prometeu viajar até Nova Iorque na semana seguinte para contratá-los. Nunca apareceu. O azar foi dele.
O primeiro projeto de animação criado e desenvolvido pelos dois foi o desenho Puss Gets the Boot (1940), que iniciou a premiada e popularíssima série Tom e Jerry, que lhes rendeu nada menos do que sete Oscar. Em 1957, os dois fundaram o estúdio Hanna-Barbera que revolucionou e transformou a história da animação.
Com a popularização da televisão, Hanna e Barbera passaram a desenvolver novos trabalhos e personagens para a essa mídia a partir de 1957. Com uma produção em larga escala e poucos recursos - utilizavam o mesmo cenário em várias animações - o que poderia parecer algo pobre esteticamente, era compensado pelas histórias criativas e os personagens, cativantes.
Seu primeiro sucesso foi a série Jambo & Ruivão, seguido dos famosos Dom Pixote, Plic, Ploc & Chuvisco, Zé Colméia, Pepe Legal, Bibo Pai e Bob Filho, Olho Vivo e Faro Fino e Loopy Le Beau, este último feito para exibição no cinema. Depois viriam as séries de horário nobre – isso mesmo, desenhos já tiveram a mesma importância numa grade que as novelas no Brasil:
Os Flintstones, Manda Chuva, Os Jetsons, Jonny Quest, dentre outros. No final da década de 1960 surgiria outro mega-sucesso: Scooby-Doo.
De certa forma, esses personagens animados foram fundamentais para a minha forma de ver o mundo. Com a série do “Manda-Chuva” e a introdução à sátira social, por exemplo, fui apresentado às histórias sobre excluídos que sobreviviam à margem de uma sociedade rígida e capitalista. Desde então, pude perceber que o mundo de hoje não é muito diferente daquele dos anos de 1960, pelo menos no que diz respeito a luta entre ricos e pobres, que não tinham sequer um aparelho de TV para assistir as aventuras de seus heróis preferidos e maravilhosos.
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