No episódio 05 da primeira
temporada do anime Psycho–pass, o personagem Tomomi Masaoka, referenciou a obra
Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, do
filósofo francês Jean Jacques Rousseau, com data de publicação em 1755, para
buscar compreender o fenômeno da internet, em específico o uso de avatares e
das redes sociais.
Antes de falar um pouco sobre a
interessante analogia, é importante trazer algumas informações sobre o anime em
questão: ela é uma obra japonesa, de outubro de 2012, que conta a história de
uma distopia onde uma tecnologia de verificação de alteração psíquica dada por
scanners, fora desenvolvida e aplicada em massa, sendo utilizada como
ferramenta de identificação de assassinos em potencial. De acordo com o nível
de alteração psíquica que o possível criminoso se encontra, os agentes da
polícia ganham autorização de paralisá-las ou neutralizá-las (com o uso de
super-armas futurísticas).
Enfim, em meio a essa distopia, Masaoka, um ex-criminoso mais velho e que auxilia os agentes da polícia, ao tentar entender a relação que as pessoas constroem com os seus avatares e os avatares de outras pessoas, acaba lançando mão de uma analogia muito interessante. Usando como referência Rousseau, ele acaba afirmando que as pessoas buscam se unir por uma necessidade comum de sobrevivência. Dois caçadores que agem sozinhos, conseguem alimento para si, mas juntos, podem caçar uma presa maior e obter uma maior quantia de alimento, suprindo, inclusive, a fome em dias de escassez. Sua conclusão é que a sociedade é algo inerente ao ser humano, algo natural... o que difere são as necessidades que nos movem a buscar construir relações. Se antes era a necessidade de sobrevivência, como no exemplo usado pelo anime, a carência emocional, no sentido de buscar algo no outro que venha a suprir nossas carências particulares, acaba se tornando o estopim para que, mais uma vez, enquanto humanidade, busquemos construir mais e novos canais de interação.
No episódio, as redes sociais são retratadas como canais de interação constante entre as pessoas, muitas, inclusive, buscando na interação, soluções para problemas pessoais e encontrando, na opinião alheia, alívio, coragem, apoio, motivação e muitas outras manifestações que auxiliam na continuidade de suas vidas cotidianas. Também, em contraponto, apresenta avatares extremamente superficiais, disputando visibilidade nas redes, como um status que angaria benefícios, o que leva a história do episódio, onde um criminoso se torna fã de certos avatares que são tão populares, que ele acaba buscando os substituir (matando as pessoas por de trás do avatar e tomando seus lugares), por entender que ele poderia fazer um melhor serviço nas redes, caso assumisse os seus papéis.
A ironia desse episódio é que, na
obra de Rousseau, aquilo que nos leva a nos unirmos, enquanto humanidade,
também é a origem da cobiça, o que confere ao início da desigualdade entre
todos, pois a cobiça faz com que busquemos construir uma sociedade desigual,
onde uns tem o direito de ter mais do que os outros e de maneira alegórica,
usando um cenário distópico, Psycho-pass, nos instiga a observar as redes
sociais com essa mesma tensão que Rousseau nos aborda com sua obra: onde, o que
nos une e cria uma ideia de igualdade entre todos, também nos distancia, pois a
proximidade acaba instigando a desigualdade, mas Rousseau não pensou em um
assassino que viesse a assumir a identidade desses desiguais que acabam
ganhando um status de notoriedade, buscando fazer um melhor uso de suas atribuições...
a isso deixamos a criatividade do anime.