A base disto, muitas intervenções sociais foram criadas no mundo inteiro. Utilizando a figura dos personagens de superaventura, para ações de auxílio e amparo para diversas crianças e adolescentes.
Veja algumas abaixo:
1. Super-Fórmula
Na tentativa de reforçar a esperança das
crianças e alimentar a sua vontade de lutar contra o câncer, a ala da oncologia
pediátrica do hospital A. C. Camargo Center foi transformada na ‘Sala da
Justiça’, alusão ao local da equipe de super-heróis das histórias em quadrinhos
da DC Comics. Heróis como ‘Batman’, ‘Aquaman’, ‘Mulher Maravilha’, ‘Lanterna
Verde’, entre outros da ‘Liga da Justiça’, fazem muito sucesso e são populares
entre as crianças. A ala foi toda redecorada: a sala de brinquedos se
transformou em Sala da Justiça, portas e corredores foram adesivados e a
fachada ganhou uma entrada exclusiva para os pequenos heróis, que na verdade
eram os pequenos pacientes que sofriam com diferentes formas de câncer (A.C.
CAMARGO CENTER, 2014).
O projeto foi lançado em 2013 e contempla
diversas séries de ações, que foram criadas pela agência JWT. A iniciativa tem
como objetivo dar mais leveza ao tratamento ao câncer infantil. Não foi somente
a ambientação dos espaços que foram modificados, os recipientes usados na
quimioterapia, foram remodelados e ganharam uma nova roupagem, envoltos por
cápsulas baseados nos uniformes dos super-heróis.
Para ampliar a
eficácia da ação, a JWT, Warner Bros., Vetor Zero e os médicos da Pediatria do
A.C.Camargo trabalham juntos na criação e produção de uma série especial de
desenhos animados e gibis, onde os próprios heróis vivem uma história
semelhante à da criança com câncer e se recuperam através dessa Superfórmula.
"O tratamento, principalmente no começo, é muito assustador tanto para a
criança quanto para a família. O projeto Superfórmula ajuda no entendimento da
doença e desperta nas crianças e adolescentes ainda mais forças para enfrentar
a dor e superar os problemas ao longo do tratamento para, ao final, ficar bem.
Os pacientes são os verdadeiros super-heróis, e seu poder é acreditar na
cura", afirmou Cecília Lima da Costa, diretora de Oncologia Pediátrica do
A.C.Camargo (A.C. CAMARGO CENTER, 2014).
Usar os super-heróis a exemplo deste projeto parece reforçar a ideia chave dessa proposta que é investigar e buscar “promover as expressões de resiliência” nas crianças que sofrem com a doença, trazendo os personagens como modelos de superação, coragem e força. O uso dos super-heróis nos medicamentos, traça paralelos entre as batalhas dos personagens contra o mal e a batalha da própria criança contra o câncer. Esta abordagem usa a sugestão de invencibilidade, na medida em que a criança usa como modelo o super-herói e sua super-potência que iria simbolicamente empoderar a criança ao invés de enfraquece-la. Dessa maneira, ‘convence’ a criança, que, assim como o super-herói, ela tem poderes de enfrentar qualquer desafio como a batalha contra sua doença.
2. I am super hero
Através de exercícios com escrita,
pensamento crítico, música, artes plásticas, os alunos da fundação descobrem
suas conexões com seus super-poderes, em seguida como um super-herói da ficção
são incentivados a realizarem boas missões, “fazer o bem” nas comunidades onde
residem.
O currículo promove uma cultura de bondade e
anti-bullying, promoção de aprendizagem social e emocional, auxiliando os
jovens a se destacar na sociedade, dados comprovam um grande rendimento escolar
dos jovens envolvidos na fundação, bem como diminuição significativa de
incidentes de violência (SUPERYOU FUNDATIONS S/A).
3. Rwandan Orphan
Project
Os super-heróis são ícones da cultura mundial, estes personagens são cono conhecidos e usados em todos continentes. Exemplo disso é o ‘Rwandan Orphan Project’, um centro para crianças de rua, localizada nos arredores da cidade de Kigali em Ruanda, no continente africano.
Este projeto fornece habitação,
vestuário, alimentação, cuidados de saúde, educação e muitas outras
necessidades para cerca de 100 crianças vulneráveis de todo Ruanda. Esta
funciona unicamente através de doações para fornecer um lugar seguro para as
crianças, livre de desespero e os perigos da vida nas ruas.
Em 2014, realizado um workshop por
um voluntário, se formou a primeira ‘Academia de Super-Heróis’ (Superhero
Academy), onde se reconhecia semelhanças entre órfãos e super-heróis. Nas
atividades exercidas, aprenderam a como lidar como problemas e conflitos de
seus dia a dia, bem como a ser mais auto-confiante e como ser modelos positivos
em suas relações.
4. Terapias com
super-heróis: quadrinhos como tratamento psicológico
Um grupo de psicólogos
norte-americanos nada ortodoxos, estão usando personagens da ficção para
tratamentos com crianças. Usando brincadeiras com actions figures (bonecos de
ação) de super-herói tato da Marvel como da DC Comics, a batalha entre os
super-heróis e os vilões e monstros se inicia, travando assim uma relação da
história da criança com a aventura desenvolvida por ele na brincadeira.
Para estes terapeutas, super-heróis
tais como Superman, são mais que um simples entretenimento, eles são uma
maneira de compreender e analisar os nossos medos mais profundos (SUSKIND,
2014). Graça ao trabalho deste grupo de psicólogos, o tratamento usando
super-heróis das HQs, vem ganhando reconhecimento lentamente dentro do mundo
das ciências da saúde.
Os super-heróis tratam de questões
como ‘enfrentar o medo’; ‘perder um ente querido’ ou ‘ser diferente’ segundo
O’Connor, que vem incorporando cultura geek em suas sessões desde 2010, tais
personagens vem mostrar os seus leitores como fretar tais questões, auxiliando
os pacientes manifestarem suas emoções.
Nos últimos anos, segundo Rubin,
muitos estudantes de psicologia estão interessados em realizar estudos usando
super-heróis em terapias. Segundo Rubi (além de usar também histórias em
quadrinhos em suas terapias, leciona na St. Thomas University, em Miami), seria
interessante visualizar mais terapeutas usando a cultura geek integrando com
jogos metafóricos e narrativas que usam a imaginação e criativas em seus trabalhos,
amarrando-o com o que podemos chamar de princípios aceitos de mudanças,
apresentado em algumas das conferências e maior impacto nas áreas da psicologia
(SUSKIND, 2014).
5. CHILD
Muitas crianças de idade pré-escolar
estão questionando em sala de aula, sobre ataques terroristas, atentados,
crimes e muitas, que são apresentadas nas mídias atualmente. Porém muitas vezes
os professores não estão preparados á responder tais perguntas e, na maioria
das vezes, estas crianças ficam acuadas, com medo, com receio de enfrentar a
vida lá fora.
Os super-heróis são modelos de
coragem, poderosos e aparentemente preparados a superar qualquer obstáculo com
grandes destrezas físicas e emocionais. E estes são modelos para o Children’s
Institute for Learning and Development (CHILD) nos EUA, de acordo com Pei-San
Brown, um dos fundadores do instituto, há muitos benefícios para as crianças
brincarem de imitar os super-heróis, além de desenvolver fisicamente, estas
também se desenvolvem cognitivamente, socialmente e emocionalmente. Muitos
suspeitaram que a imitação das ações dos super-heróis pudesse levar a violência
real mais tarde, incentivando a violência, mas há pesquisas que provam
exatamente o oposto. Os desafios levados na brincadeira, leva a maiores
habilidades e experiência em lidar com a adversidade, criado hábitos de
não-violência. Imitar super-herói possa realmente prevenir a violência.
6.
Seja o super-heróis de sua vida
Os participantes são alunos das séries
finais do ensino fundamental no estado do Rio Grande do sul, e a intervenção
com super-heróis focou a fase pré-capa/pré-máscara dos personagens (criada por
WESCHENFELDER, 2015, para fazer referência o período da vida dos personagens
ficcionais super heroicos, antes de vestirem suas fantasias e capas pela
primeira vez, antes de se tornarem os super-heróis. Isso quer dizer que, como
todos os indivíduos na vida real, os super-heróis apresentam momentos de
desenvolvimento na sua vida ficcional, durante os quais eles(as) não
desempenhavam funções heroicas; a fim de observar e avaliar os efeitos dessa
etapa nas imagens pré-elaboradas sobre super heroísmo. Para tanto, o primeiro
passo foi organizar ações em que os alunos eram apresentados às adversidades
vividas pelos super-heróis. Logo após, os alunos eram solicitados a escrever,
com base em sua imaginação, um roteiro para criação de uma história em
quadrinhos. A história deveria conter momentos de adversidades sociais, um
“ponto de virada” (RUTTER, 1987), que mudasse o rumo negativo da experiência
para algo transformador e a finalização com uma “nova vida” ou numa busca
otimista e esperançosa por viradas e transformações.
Durante a intervenção, os alunos receberam
a orientação de que a história até poderia ser sua história de vida, caso se
sentissem à vontade para tal (WESCHENFELDER, 2016). Os resultados do exercício
dessa intervenção foram contundentes. As manifestações de todos os
participantes das duas escolas participantes do projeto, na fase pós-teste,
confirmaram a hipótese inicial de que há grande empatia e sensibilidade quanto
às adversidades dos super-heróis e seus momentos de virada. Os relatos
evidenciaram que os participantes se sentiram confortáveis ao tomar ciência
dessa transição dos super-heróis. Houve indicações de que isso foi um
facilitador para que as próprias histórias de sofrimento pudessem ser escritas
e reveladas.
Na etapa posterior, cada história de dor, luta e fortalecimento foi transformada em arte sequencial (quadrinizada) e desenhada por um quadrinista convidado. Esse parceiro do projeto voluntariamente se dispôs a colaborar com a proposta e o produto final, do projeto gerou a sensação de autoria e protagonismo de suas vidas nos participantes. A intervenção deixou a mensagem pretendida: cada um pode ser o super-herói da própria trajetória (WESCHENFELDER, 2020). Por meio dessa mensagem, as atividades propostas na intervenção buscaram criar uma atmosfera de proteção e um ambiente de acolhimento para que o protagonismo e o agenciamento de cada indivíduo e de suas condições de vida fosse incentivado.
Esta intervenção recebeu o Prêmio Jovem Cientista peloCNPq em 2018; Prêmio Sua Pesquisa em 3 Minutos em 2021 e Prêmio Rede Sapiens 2021. Além de ser convidado pela Embaixada Britânica para representar o país no Science Tour BR-UK, divulgando a pesquisa nas maiores instituições de pesquisa no Reino Unido.
A.C. CAMARGO CENTER. Superfórmula para
combater o câncer. 2014. Disponível em:
http://www.accamargo.org.br/superformula/. Capturado em 20/05/2015.
RUTTER, M. Psychosocial resilience and protective mechanisms. American Journal of Orthopsychiatry. 57, 1987.
WHALEN
M. & ROLF J. E. (Org.), Primary
prevention of psychopathology: Vol. 3. Social competence in children. Hanover,
NH: University Press of New England, 1979.
WESCHENFELDER, G. (org.) EJA – Desafios e
conquistas: Um panorama da educação de Jovens e adultos em Novo Hamburgo. Porto
Alegre: Pacartes, 2016.
WESCHENFELDER, Gelson. Aristóteles e os
super-heróis: a ética inserida nas histórias em quadrinhos. São Bernardo do
Campo, SP: Garcia edizioni, 2014.
ZHANG, X. Y.,
DeBLOIS, L., DENIGER, M. A., & KAMANZI, C. A theory of success for
disadvantaged children: Reconceptualization of social capital in the light of
resilience. Alberta Journal of Educational Research, 54, 2008.