Quanto
se pensa em vilões das HQs, sempre se pensa no Coringa, o maior vilão de todos
os tempos. Criado em 1940, por Bob Kane, Bill Finger e Jerry Robinson, o
inimigo número 1 do Batman, estreou na revista Batman #1. Cometeu vários atos
terríveis, desde assassinar o segundo Robin (Jason Todd), deixar em uma cadeira
de rodas a Barbara Gordon, e cometer suicídio na minissérie Cavaleira das
Trevas, para culpar o Batman. Este vilão sempre foi a maior dor de cabeça para
o super-herói Batman.
Coringa
é tão famosa quanto o emblema do Batman, não há como não lembrar do vilão,
quando se fala no herói. O que seria do Batman sem o Coringa? Um dos vilões
mais lembrados das HQs, está agora sob o olhar da filosofia.
Umas
de suas marcas registradas e o Coringa, a carta de baralho, que deixa por onde
cometeu um crime, pois esta não é única marca registrada do vilão, o que seria
do Coringa sem sua risada sarcástica?
O
riso é uma questão que indaga e remete á várias discussões teóricas de diversos
filósofos durante a história da filosofia. Sócrates, Platão, Aristóteles e
Hobbes foram alguns que pensaram sobre o assunto.
O
riso era censurado no século XVII, classificado como ato obsceno, pois havia
uma conexão entre o ‘riso’ e o ‘desprezo’, algo que o filósofo grego
Aristóteles (384 a.c- 322 a.c) já havia levantado. Porém o filósofo vê mais
benefícios do que malefícios no riso. Segundo ele, o riso nada mais é do que
uma emoção de reação sobre determinada coisa, esta muitas vezes provocada pela
arte. Nas artes cênicas, a comédia tem este papel, provocar risos na plateia.
Aristóteles via na arte algo fundamental para o homem, pois ela provoca um
efeito benéfico denominada “catarse”, que significa ‘purificação’, ‘evacuação’
ou ‘purgação’. Segundo Aristóteles, a catarse refere-se à purificação da alma por meio de uma descarga emocional provada
pela arte.
Outro filósofo que se dedicou ao assunto sobre o riso foi o filósofo inglês Hobbes (1588-1679). Segundo ele o “riso não é considerado uma paixão propriamente dita, mas o signo de uma paixão que, por ventura, não possui nome”[1]. Em ‘Elementos da Lei Natural e Política, Hobbes destaca uma análise sobre o riso:
Existe uma paixão que não tem nome, mas seu sinal é aquela distorção das feições faciais a que damos o nome de riso, o qual é sempre alegria; mas que alegria ela é, o que estamos pensando, e em que triunfamos quando rimos não foram até agora declarados a ninguém. A experiência nega que ela consiste no humor ou, tal como é chamada, na graça; afinal, os homens se riem diante de infortúnios e indecências, nos quais não existem nem humor nem graça alguma. E na medida em que a mesma coisa deixa de ser ridícula quando se torna antiquada ou usual, não importa o que tenha causado riso, isso deve ser novo e inesperado[2].
Certa forma o personagem Coringa,
faz piadas das desgraças de suas vítimas, porém somente ele acha graça, com sua
risada sarcástica. O palhaço do crime até cria uma substancia química na qual
as suas vítimas acabam falecendo de tanto rir.
Uma das diversas histórias sobre o
passado do Coringa, em ‘Batman: A Piada da Mortal’, Antes de se tornar o vilão
demente, enquanto jovem tenta a vida como comediante, porém ninguém gosta de
suas piadas, após o acidente em um laboratório químico que transforma seus
cabelos e sua pele, e também sua mente, tudo se torna em uma grande piada, de
modo sarcástico, rindo das desgraças de suas vítimas, segundo Hobbes, os homens
riem das fraquezas dos outros, o que por comparações ressalta e ilustra suas
próprias capacidades[3].
Esta afirmação de Hobbes se vê muito nas atitudes do palhaço do crime, pois
segundo o filósofo, o riso resulta em uma imaginação súbita de nossa própria
superioridade.
Mas é no filósofo grego Platão (428 a.c – 348
a.c), mestre de Aristóteles, que encontraremos diretrizes sobre o riso que, se
assemelham melhor com o vilão Coringa.
Platão repudiava a arte, comédia, pois estas não elevavam o homem à
razão, muito pelo contrário segundo ele. A comédia, assim como o riso, são para Platão os primeiros sintomas da loucura ou de uma animalidade
descontrolada[4].
O riso do palhaço do crime demonstra
a loucura e animalidade que Platão identifica, o vilão Coringa “é determinada
por diretrizes platônicas, já que seu sorriso permanente serve apenas para
indicar loucura e maldade”[5].
Platão comentava que o riso te leva ao caminho contrário da razão, leva ao
caminho da demência, o personagem é construído com estas características, sendo
o seu riso a marca registrada de sua loucura e animalidade.
[1] MATTOS, Delmo. Riso: O outro lado do Homem? In
Filofosia- Ciência e Vida. São Paulo: Escala, dez. 2012. p.67.
[2] HOBBES. Elementos da lei natural e política. São
Paulo: Icone, 2002. P. 63.
[3] MATTOS, Delmo. Riso: O outro lado do Homem? In Filosofia - Ciência e Vida. São Paulo: Escala, dez.
2012. P. 68.
[4]PLATÃO. A República. São Paulo: Nova Cultural, 2004. 309 a.
[5] FEITOSA, Charles. Explicando a filosofia com arte. Rio de
Janeiro: Ediouro, 2004. P.124.