Sabe qual é a pior desvalorização da educação? Não é ser desvalorizado pela classe política e social, é ser desvalorizado pela própria educação.

 

Estou há um tempo realizando formações docentes e trabalhando com alunos de diversas escolas na educação básica (públicas e privadas). Fiz uma graduação em licenciatura, especialização em educação básica, mestrado e doutorado em Educação, e estou no segundo pós-doutorado pesquisando sobre a área. E nunca me senti tão desvalorizado, como percebo hoje, pelos colegas das áreas educacionais.

 

Tenho diversos amigos e conhecidos que se dedicam anos em pesquisas, criar e avaliar didáticas, mas os professores da educação básica, possuem um certo preconceito, por ser este um acadêmico. Pois não condiz com a realidade deste, segundo comentários. Vejo a dedicação de pesquisadores, que estão juntamente realizando suas atividades de pesquisas com docentes da educação básica, analisando, propondo, criando e avaliando atividades didáticas e soluções para as áreas educacionais. E vem alguns dizer que este não conhece a realidade?

Participei de uma formação, em uma instituição privada. Onde fui convidado para apresentar minhas ações de pesquisa em ambientes escolares. Antes da minha formação, teve a participação de um Coaching, que se vangloriava que, desistiu do ensino superior e fez um curso de coaching. E hoje, segundo ele, não sai de casa por menos de R$ 8 mil reais.  E após sua fala, que não havia nada, digo nada mesmo sobre educação, recebeu uma salva de palmas, com os professores de pé, saudando aquela fala.

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Me questionei o que estava fazendo ali. Além da escola, ter me convidado, não falou nada em cachê, e nem vi isso. Sendo que pedi um atestado da atividade, que até hoje não recebi. E ah, aquele coaching, que se vangloriava de ter parado de estudar, segundo informações de amigos que trabalham na escola, recebeu aquele valor de cachê.

Em outra ocasião, me convidaram para uma formação com docentes, também em uma escola privada, para realizar uma atividade para uma rede educacional. Pedi para adquirirem meu livro, pois era interessante como base, e assim, após minhas atividades, tinham esse como complemento para criarem suas didáticas. A rede nunca mais me respondeu. Sendo que, realizei muitas atividades, diga-se gratuita, nessas escolas da rede.

Também a pouco tempo, uma escola, famosa me convidou para uma atividade com os seus alunos, falando sobre super-heróis (tema de minha pesquisa). Porém a atividade teria que ser presencial, mesmo eu argumentando que, por estarmos ainda em período pandêmico, preferia ser remoto, pois não havia recebido minha segunda dose da vacina. Quando questionei os custos do deslocamento, pois era em outra cidade. Vieram com a desculpa que, não podiam ter este custo. E seria bom para mim estar na escola, pois iria ajudar em meu currículo. Ajudar em meu currículo? Sou mestre, doutor, estou no segundo pós-doc; publico diversos artigos científicos, participo de eventos e tenho alguns livros e capítulos publicados. Acredito que não preciso estar fazendo algo de forma gratuita e com custos para mim para “engrandecer” meu currículo. Após o ocorrido, convidaram um youtuber de fora do estado para falar sobre quadrinhos e super-heróis. Minha pergunta, este youtuber veio de fora do estado, para dar uma palestra para “ajudar” seu currículo?

(Ah, nada contra um youtuber. Sei do trabalho de criar conteúdo para a internet. Somente me sinto desvalorizados como pesquisador e professor).

Oque me indigna é ver muitos docentes criticando a reforma da educação (tem que criticar mesmo), e falando sobre o impacto do “Notório Saber” em ambiente escolar, mas, ao mesmo tempo e de forma hipócrita, patrocinam estes ditos de ‘notório saber’ em suas instituições.

Sendo que há diversos relatos de outros colegas pelo descaso á pesquisa e valorização da educação.

Preferem um coaching que se vangloria de não ter estudo e/ou um youtuber, do que um profissional, pesquisador em ambientes escolares? Qual mensagem estas instituições de ensino estão passando para seus alunos?

A crise da educação, passa sim, pelas instituições também. O problema também é interno da desvalorização do profissional educacional.