Por Mandy
O quadrinho Hinário Nacional de Marcello Quintanilha aborda questões de desigualdades sociais muito presentes na nossa sociedade. Cada mini conto é dividido em um tema central, trazendo pautas como racismo estrutural, machismo, assédio moral, assédio sexual discriminação, falta de educação sexual e principalmente, abuso sexual.
O primeiro conto do quadrinho, Ave Maria, Cheia de Graça, O senhor é Convosco aborda questões como a falta de segurança e a dependência emocional em um relacionamento tóxico. Michele se destitui dos seus gostos e dos seus desejos para agradar Arruda, seu parceiro, se privando de coisas que a fazem feliz por medo de perder Arruda e por ter uma necessidade desgastante de fazê-lo a amar na mesma intensidade que ela o ama.
O segundo conto, Hinário Nacional, retrata a história de uma menina que é violentada sexualmente na escola e relata, usando metáforas da relação de uma lagarta e uma vespa, como se sente presa e sufocada diante daquela situação. Por conseguinte, evidenciando a necessidade de ter tido uma educação sexual de qualidade, considerando, que a menina não percebe o que está acontecendo consigo e não entende a raiva dos pais quando eles descobrem e vão conversar com o diretor da escola.
O terceiro conto Batalha de Flores, retrata a história do jovem Agripino que é sufocado pela masculinidade tóxica de seus amigos e por conta disso participa de um estupro coletivo. O personagem era abusado sexualmente quando criança, entretanto, nunca falou sobre isso com ninguém por medo de ser julgado e também por ser considerado um tabu pela sociedade, nunca comentaram sobre isso com ele. Este conto retrata como o machismo estrutural também afeta os homens, como se eles tivessem que ser fortes o tempo todo. Retrata a masculinidade tóxica e a falta da educação sexual, pois Agripino só percebe que foi vítima de violência, após ter cometido essa violência e seus amigos rirem de sua cara quando contou que ninguém falou que era errado sentar no colo de um homem.
O quarto conto, Olhai pro Céu, retrata a história de um Uber/taxista que leva duas mulheres, uma mãe e uma filha até o leme. Quando ele vê a mulher mais jovem, começa a cobiçá-la, por mais que saiba que não pode tocá-la e que é errado, demonstra verbalmente seu desejo por ela, o que a deixa bastante desconfortável.
O conto aborda a questão do assédio moral/sexual, porque para o motorista aqueles comentários eram só uma brincadeira, mas as duas mulheres ficaram com tanto medo que decidiram parar em um destino que não era previsto, para evitar mais desconforto e algum tipo de violência física.
O quinto conto, Eu era o fenômeno da minha escola, retrata a história de uma acrobata que durante sua apresentação fica se lembrando da época em que era violentada sexualmente em sua antiga escola por um colega e de como seu pai era abusivo na infância. A personagem tenta superar isso rindo enquanto faz sua acrobacia, entretanto, o trauma e a falta de apoio psicológico realmente fizeram falta na sua vida.
O sexto conto, Pai Doce, retrata a história de Josué Aparecido Paixão de Souza que se envolve em um acidente de carro. Nesse conto podemos perceber melhor a questão do oprimido querer se tornar o opressor, que o filosofo Paulo Freire pregava, pois o sonho de Seu Josué era ser um homem branco e respeitado por todos, o que não era de sua realidade por ser negro. Seu Josué deixa evidente que em sua casa quem mandava era ele, que o pessoal do trabalho “esculachava” mesmo, por isso podiam chamá-lo de Seu Menezes, mas que em casa ele era Josué Aparecido Paixão de Souza, em casa quem era o branco era ele e por isso devia ser respeitado, abordando questões como o racismo estrutural, machismo e assédio moral no ambiente de trabalho.
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