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UMA HISTÓRIA ASSUSTADORA E ATUAL. UM GRITO EXILADO DIANTE DOS DEMÔNIOS NAZISTAS

 



"Mefisto é uma crítica brutal a todos os intelectuais e artistas que traiçoeiramente se vendem em troca de dinheiro e fama."

Esquerda Diário

As histórias de pessoas que negociaram a própria alma com demônios em troca de benefícios terrenos são muito populares. Elas circulam entre os povos desde antes de seus registros em peças teatrais, contos, romances, canções, imagens. Mas nenhum pacto é tão popular quanto o do dr. Fausto, personagem do folclore medieval germânico que, em troca de conhecimento e poder, legou sua alma a Mefistófeles. Essa lenda serviu de base para a obra máxima de um dos patriarcas da literatura do país, Johann Wolfgang von Goethe, autor da peça Fausto.

Em 1936, o alemão Klaus Mann publicou Mefisto, romance centrado em um pacto fáustico diretamente ligado à obra de Goethe. No livro é contada a história de Hendrik Höfgen, ambicioso ator que abdica de seus ideais revolucionários em troca da ascensão social meteórica numa carreira artística cujo ápice, não por acaso, é uma encenação do Fausto de Goethe. Na peça, Höfgen interpreta Mefistófeles, enquanto em sua vida ele age como Fausto. Porém, o demônio de Höfgen não é uma entidade fantástica, e sim um demônio concreto: o Partido Nazista.

O romance foi escrito quando Klaus se encontrava exilado na Holanda, durante a ascensão do Terceiro Reich, um pouco antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939. Seu protagonista, assim como quase todos os personagens do livro, é inspirado em pessoas reais da época, um dos motivos pelo qual o livro foi censurado. Em 1968, o Tribunal Federal de Justiça alemão proibiu o romance ao acatar o pedido do filho adotivo do ator Gustaf Gründgens, que reconhecera seu pai, no protagonista da obra. Em 1971, porém, a censura foi derrubada.

A edição especial da DarkSide® Books, organizada por Paulo Raviere, conta com uma tradução criteriosa feita diretamente do alemão por Claudia Abeling e com belíssimas xilogravuras criadas por Ramon Rodrigues especialmente para o livro. No posfácio assinado por Claudia Dornbusch, a pesquisadora afirma: “Percebemos a fina ironia ao mostrar o colaboracionismo de várias esferas da sociedade: chefes da polícia secreta, editores, diplomatas, divas do cinema, professores universitários e banqueiros judeus”.

Mefisto tem muitas semelhanças com nossos tempos, o que torna sua leitura ainda mais urgente e assustadora. Vários países e governantes da atualidade parecem mimetizar muitos dos atos da Alemanha nazista descritos no livro. Tanto nos anos 1930 como nos tempos atuais, o ambiente é sufocante e opressor, e esta obra magistral de Klaus Mann nos mostra como um pacto com um demônio sempre anda à espreita, buscando por aqueles que topam as propostas mais inomináveis, desde que possam tirar vantagens.

Organizador: Paulo Raviere

Ilustrador: Ramon Rodrigues


Link da publicação AQUI

SOBRE O AUTOR

Klaus Mann nasceu em Munique, em 1906. Segundo filho do escritor Thomas Mann, Klaus começou a escrever contos e artigos em 1924 e foi crítico teatral de um jornal de Berlim. Em 1925, publicou um volume de contos e um dos primeiros romances de temática homoerótica na literatura alemã, Der fromme Tanz [A Dança Pia – O Livro de Aventuras de uma Juventude]. Engajou-se em campanhas contra o nazismo, transitando entre Holanda, Suíça e Estados Unidos, onde se estabeleceu em 1936, em Nova York. Entre suas maiores obras estão Fuga para o Norte (1934), Sinfonia Pathétique (1935), Mefisto (1936), O Vulcão (1939). Tornou-se cidadão americano em 1943, entrou para o Exército, e foi correspondente da revista do Exército Stars and Stripes. Em 1949 acabou falecendo em Cannes, na França, por uma overdose de soníferos, após anos de consumo de heroína e alguns bloqueios criativos. Em 1981, Mefisto foi adaptado para o cinema pelo diretor húngaro István Szabó, e no ano seguinte levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

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