O presente estudo é o resultado de uma prática realizada em sala de aula na disciplina de História, na escola pública de nome Colégio Marechal Rondon, situado na cidade de Canoas/RS, com a turma do sétimo ano do Ensino Fundamental, juntamente com pesquisas realizadas sobre o uso de mangás no contexto escolar. O estudo centraliza-se na investigação das possibilidades da utilização de mangás na disciplina de História no Ensino Médio e Fundamental, seja como meio didático ou aplicação pontual, bem como sua contribuição como metodologia de prática pedagógica e introdutória ao conteúdo de História, com intuito de demonstrar a aplicabilidade e a qualidade das práticas educacionais, tendo como centralidade a temática “mangá”.
Conforme definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), a Base deve nortear os currículos dos
sistemas e redes de ensino das Unidades Federativas, como também as propostas
pedagógicas de todas as escolas públicas e privadas de Educação Infantil,
Ensino Fundamental e Ensino Médio, em todo o Brasil. Em suas competências há um
leque de possibilidades para que educadores tenham maior autonomia e que vão ao
encontro da articulação na construção de conhecimento, no desenvolvimento de
habilidades e na formação de atitudes e valores com os alunos em sala de aula.
Sendo assim, por sua vez o Japão por ser o país de origem dos
mangás, é o país com o maior índice de alfabetização do mundo, devido ao forte
hábito de leitura no mesmo pois os mangás - por estarem inseridos na indústria
editorial e de entretenimento japonesa, existe um público bem amplo para
diversas histórias e idades atualmente. Conforme Luyten (2011) demonstra, um
dos motivos que levou a esse “boom” de consumismo de mangás no Japão deve-se ao
fato dos pós Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), onde o país saiu da mesma
derrotado. Com um cenário novo para novas ideias de histórias, a criação e
venda dos mangás eram de fácil acesso a todos, sendo assim, o surgimento de
novos temas criado pelos novos quadrinistas.
O presente artigo tem como objetivo, identificar as
potencialidades existentes na obra Rurouni
Kenshin que promovam formas de compreensão no ensino de História,
construindo ações pedagógicas e mediações culturais com os mangás do referido
título, desenvolvendo quatro objetivos específicos: a) Reconhecer nas mídias
como animes e mangás, conteúdos com referências históricas e simbólicas que se
conectam com as necessidades de ação pedagógica no ensino de História. b)
Discutir sobre o ensino com utilização dessas mídias na educação curricular incentivando
as crianças e adolescentes através do lúdico a prática e o gosto pela cultura,
arte e leitura. c) Analisar as possíveis influências que as os mangás trazem em
seu conteúdo, incentivando o aluno a perceber elementos históricos presentes
nos mangás e d) Comparar e discutir sobre as diversas manifestações simbólicas
e narrativas da obra sobre a qual estamos pesquisando.
1.
Referencial Teórico
Buscando qualidade e excelência nos objetivos citados acima, este
estudo fará uma análise do mangá Rurouni Kenshin,
do autor Nobuhiro Watsuki (1970 - ), distribuída pela Editora JBC em
setembro de 1994 a novembro de 1999.
Esta é uma pesquisa de estudo de experiência, onde foram realizadas
atividades em sala de aula utilizando mangás para elaboração de aulas de História,
buscando uma maior proximidade com os contextos históricos na referida obra do
autor Nobuhiro Watsuki. Para podermos ter uma aproximação dos fatos e um
embasamento do contexto observado pelo autor, serão observadas as anotações dos
autores e historiadores que já vieram a ter como objeto de estudo, a
incorporação de diferentes fontes e linguagens no ensino de história.
Após as diversas discussões e controvérsias sobre as mudanças que
a historiografia passou na metade do século XX, com a Escola dos Annales (1929
– 1989) permitindo um maior conhecimento do cotidiano e do passado, através da
incorporação de novos tipos de fontes de pesquisa, é que me detenho na
utilização de diferente linguagens e fontes na disciplina de História. Visando
o processo de crítica ao uso exclusivo do livro didático tradicional, e da
difusão de livros paradidáticos, no avanço tecnológico da indústria cultural e
do movimento historiográfico é que se caracteriza a ampliação documental e da
temática desta pesquisa.
É de forma recorrente na educação escolar a utilização de uso de
imagens, obras de ficção, artigos de jornais, filmes e programas de TV no
desenvolvimento de vários temas, tornando-se uma opção metodológica que amplia
o olhar do historiador, o campo de estudo, tornando o processo de transmissão e
produção de conhecimentos interdisciplinar, dinâmico e flexível (FONSECA,
2003). Sendo assim a autora colabora:
O professor, no exercício cotidiano de seu
ofício, incorpora noções, representações, linguagens do mundo vivido fora da
escola, na família, no trabalho, nos espaços de lazer, na mídia, etc. A
formação do aluno/cidadão se inicia e se processa ao longo de sua vida nos
diversos aspectos de vivência. Logo, todas as linguagens, todos os veículos e
matérias, frutos de múltiplas experiências culturais, contribuem com a
produção/difusão de saberes históricos, responsáveis pela formação do
pensamento, tais como os meios de comunicação, tradição oral, monumentos,
museus etc. Os livros didáticos e paradidáticos como fontes de trabalho devem
propiciar a alunos e professores o acesso e a compreensão desse universo de
linguagens (FONSECA, 2009, p. 164).
Diante disso, ao incorporar diferentes linguagens no processo de
ensino de história reconhecemos não só uma tênue ligação entre os saberes
escolares e a vida social, mas também da necessidade de (re)construirmos nosso
conceito de ensino e aprendizagem. (FONSECA, 2009). Atualmente o professor não
é mais aquele que deposita os conhecimentos aos alunos que, por sua vez
“decoram” o conteúdo. Hoje o professor tem o privilégio de mediar as relações,
ainda mais o conhecimento, entre o sujeito e o mundo e suas representações,
permitindo a pluralidade de linguagens culturais, étnicas, religiosas,
universos mentais construtivos a partir de nossa realidade.
Buscando aproximar um pouco a leitura metodológica para o
professor de História e como um Historiador, novos temas e abordagens que
influenciam o ensino de História a abandonar o tom cristalizado, naturalizado, de
determinados objetos, evidenciando que até nossas mais fortes crenças, que
pareciam ter nascido conosco, têm uma história, um começo, às vezes perverso,
de violência de dizimação e de aculturação. (BARROSO, 2011). Para melhor
compreensão dos afazeres intrínsecos do professor de História, a autora
exprime:
Os historiadores não podem recuperar o passado
tal como ele aconteceu. É impossível reproduzir os acontecimentos, tendo em
vista a sua complexidade. Recuperam, sim, fragmentos do passado; captam instantes
que correspondem a um insight, e, muitas vezes, é o seu sentido modificado que
chega até o historiador. Isso porque o passado não se oferece ao historiador
senão na forma do relato histórico ou de memória. Ou seja, o passado é
apreendido apenas na abstração, ele não é a História; este apenas ousa
descrever o passado às novas gerações, sempre, inexoravelmente, segundo as
disposições políticas e os instrumentos teóricos disponíveis no momento
presente (BARROSO, 2011 p. 170).
Logo o historiador não despreza a cronologia, apenas opta por
outras concepções do tempo e da duração em História e compreende a cronologia
como Le Goff, que traz em seus estudos que, a vê como “um conjunto de
referências que sem dúvida deve ser enriquecido, flexibilizado, modernizado,
mas que permanece fundamental para o próprio historiador”. Corporificando um
pouco mais esta afirmativa, agora no meio da educação, mantemos nossos olhos ao
que a pedagogia nos diz sobre a didática no desenvolvimento humano diante das
tarefas da vida em uma sociedade. Pois quando falamos em educação, o professor
tem que ter noção de onde está inserido, e onde a escola está localizada, em
razão de quando falamos das finalidades da educação:
os objetivos, conteúdos e métodos da educação se
modifica conforme as concepções de homem e da sociedade que, em cada contexto
econômico e social de um momento da história humana, caracterizam o modo de
pensar, o modo de agir, e os interesses das classes e grupos sociais (LIBANEO,
1994, p. 52).
Buscando maior compreensão na Didática em sala de aula, temos aqui
a noção de que a educação escolar é uma tarefa proeminente social, “pois a
sociedade necessita prover as gerações mais novas daqueles conhecimentos e
habilidades que vão sendo acumulados pela experiência social da humanidade”
(LIBÂNEO, 1994). Não nos é suficiente dizer que os alunos têm que dominar os
conhecimentos, mas sim, “é necessário com fazê-lo, isto é, investigar objetivos
e métodos seguras e eficazes para a assimilação dos conhecimentos.” (LIBÂNEO,
1994). O autor diz:
Quando mencionamos que a finalidade do processo
de ensino é proporcionar aos alunos os
meios para que assimilem ativamente os conhecimentos é porque a natureza do
trabalho docente é a mediação da relação cognitiva entre o aluno e as matérias
de ensino. Isto quer dizer que o ensino não é só transmissão de informações,
mas também o meio de organizar a atividade de estudo dos alunos. O ensino
somente é bem-sucedido quando os objetivos do professor coincidem com os
objetivos de estudos do aluno e é praticado tendo em vista o desenvolvimento
das suas forças intelectuais. Ensinar e aprender, pois são duas facetas do
mesmo processo, e que se realizam em torno das matérias de ensino, sob a
direção do professor (LIBÂNEO, 1994, p 54 - 55).
É nesse contexto que os mangás na disciplina de História devem ser
consideradas. Independentemente de que a exploração didática de história em
quadrinhos no ensino em geral tenha começado de forma suave, pois as histórias
em quadrinhos, HQs, décadas atrás eram vistas como um ar de desconfiança e de
forma prejudicial ao ensino, desestimulando imaginação e leitura, e tornando a
criança e o jovem delinquentes. Hoje em dia estes pontos de vistas já foram
superados com pesquisas sobre o assunto, pois está comprovado que muitos professores
estão usando os quadrinhos como um meio eficaz para o ensino e as necessidades
de aprendizagem (LUYTEN, 2011).
Para continuar lendo esta pesquisa, acesse: https://www.revistas.uneb.br/index.php/abatira/article/view/8640
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