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Injustice, Superman e a decisão de matar

 Por Arthur Lopes Filho


Engraçado ouvir uma grande parte da falange de fãs do universo DC se debaterem entre si, sempre que surge a questão da morte em Superman. Seja nas HQs, nos filmes, nos desenhos animados ou mesmo nos games, muitos fãs acabam arbitrando que o Superman, pelo fato de ser uma das criaturas mais poderosas de todo o universo, poderia resolver grande parte dos problemas do mundo, caso matasse a falange de vilões que dão dor de cabeça para outros muitos super-heróis. É claro que, em um pensamento utilitarista, a morte de um vilão poderia, de fato, causar um bem maior, no sentido de preservar a vida de muitos, mas quais seriam as consequências dessa decisão para o próprio Superman? E no que ele se tornaria, caso ultrapassasse esse limite?

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O jogo Injustice: Gods among us, de 2013 e Injustice 2, de 2017, ambos produzidos pela Nether Realm Studios e publicados pela Warner Bros. Games, trazem uma boa discussão sobre esse assunto. Em ambos os jogos vemos um Superman fragilizado, visto o fato de o Coringa o ter enganado e o levado a matar sua amada esposa Louis Lane, que estava grávida de seu filho, além de ter explodido uma bomba que destruiu sua adorada Metrópolis. Diante dessa situação, Superman acaba matando o Coringa e assumindo uma terrível posição, dada pela sua decisão: se tornar um ditador.

A premissa do game nos leva a pensar no preço de uma decisão e no que ela nos transforma quando nos permitimos decidir sobre a vida e a morte de alguém. Superman, ainda que seja um ser dotado de super-habilidades, é tão humano quanto todos nós, quando tem de enfrentar a responsabilidade de suas decisões. Matar pode parecer fácil, quando fãs tem um juízo pronto sobre um vilão (aos moldes de uma HQ), mas quando pensamos no julgamento que empregamos, no poder de nossa decisão e que no fim, será sempre uma decisão particular extinguir a vida de um outro, é a fronteira que cada herói, não somente do universo DC, acaba tendo de enfrentar. No caso do game, o Superman assume a postura de um assassino, não muito diferente de alguns terroristas, defendendo sua posição de executar todos aqueles que ele considera um mal para o mundo e poupando, por consequência, os que ele considera “pessoas de bem”. A questão que recai sobre ele é simples (e deve sempre ser levantada, toda vez que alguém, com poder suficiente para decidir sobre algo tão grave quanto a vida e a morte, fizer uso de argumentos que justifiquem sua decisão): Qual é o critério que define uma "pessoa de bem" e um vilão? É fácil julgar quando falamos de assassinos em massa, mas quando falamos de políticos corruptos, pessoas que mentem em seus impostos, empresários que exploram seus trabalhadores, usuários de drogas, tarados que espionam vizinhos, maridos e esposas que se violentam ou que violentam seus filhos... quem são os vilões merecedores do extermínio de um Superman?

O problema de tal situação é que não existe um limite claro entre o que é certo ou não de se fazer e nesse caso, ninguém além do Superman decidiria sobre isso, portanto, cabendo a sua própria moral decidir quem vive ou não, e é por isso que o peso de matar ou não, acaba se resumindo num único momento que vai muito além de toda e qualquer filosofia ou teoria dada pelos fãs (ou mesmo por mim): somente no momento em que o ato de matar alguém se faz presente, é que o herói tem de enfrentar sua face no espelho e entender que, ao transpor esse limite, ele se tornará um ditador, decidindo quem merece viver ou quem merece morrer.


ARTUR RODRIGO ITAQUI LOPES FILHO
Master in Philosophy and History
Doctoral Student in History
Professor of Philosophy, History and Pop Culture
2 anexos
 
 


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