Engraçado ouvir uma grande parte da falange de fãs do
universo DC se debaterem entre si, sempre que surge a questão da morte em
Superman. Seja nas HQs, nos filmes, nos desenhos animados ou mesmo nos games,
muitos fãs acabam arbitrando que o Superman, pelo fato de ser uma das criaturas
mais poderosas de todo o universo, poderia resolver grande parte dos problemas
do mundo, caso matasse a falange de vilões que dão dor de cabeça para outros
muitos super-heróis. É claro que, em um pensamento utilitarista, a morte de um
vilão poderia, de fato, causar um bem maior, no sentido de preservar a vida de
muitos, mas quais seriam as consequências dessa decisão para o próprio
Superman? E no que ele se tornaria, caso ultrapassasse esse limite?
O jogo Injustice: Gods among us, de 2013 e Injustice 2, de
2017, ambos produzidos pela Nether Realm Studios e publicados pela Warner Bros.
Games, trazem uma boa discussão sobre esse assunto. Em ambos os jogos vemos um
Superman fragilizado, visto o fato de o Coringa o ter enganado e o levado a
matar sua amada esposa Louis Lane, que estava grávida de seu filho, além de ter
explodido uma bomba que destruiu sua adorada Metrópolis. Diante dessa situação,
Superman acaba matando o Coringa e assumindo uma terrível posição, dada pela
sua decisão: se tornar um ditador.
A premissa do game nos leva a pensar no preço de uma decisão
e no que ela nos transforma quando nos permitimos decidir sobre a vida e a
morte de alguém. Superman, ainda que seja um ser dotado de super-habilidades, é
tão humano quanto todos nós, quando tem de enfrentar a responsabilidade de suas
decisões. Matar pode parecer fácil, quando fãs tem um juízo pronto sobre um
vilão (aos moldes de uma HQ), mas quando pensamos no julgamento que empregamos,
no poder de nossa decisão e que no fim, será sempre uma decisão particular
extinguir a vida de um outro, é a fronteira que cada herói, não somente do
universo DC, acaba tendo de enfrentar. No caso do game, o Superman assume a
postura de um assassino, não muito diferente de alguns terroristas, defendendo
sua posição de executar todos aqueles que ele considera um mal para o mundo e
poupando, por consequência, os que ele considera “pessoas de bem”. A questão
que recai sobre ele é simples (e deve sempre ser levantada, toda vez que
alguém, com poder suficiente para decidir sobre algo tão grave quanto a vida e
a morte, fizer uso de argumentos que justifiquem sua decisão): Qual é o
critério que define uma "pessoa de bem" e um vilão? É fácil julgar
quando falamos de assassinos em massa, mas quando falamos de políticos
corruptos, pessoas que mentem em seus impostos, empresários que exploram seus
trabalhadores, usuários de drogas, tarados que espionam vizinhos, maridos e
esposas que se violentam ou que violentam seus filhos... quem são os vilões
merecedores do extermínio de um Superman?
O problema de tal situação é que não existe um limite claro
entre o que é certo ou não de se fazer e nesse caso, ninguém além do Superman
decidiria sobre isso, portanto, cabendo a sua própria moral decidir quem vive
ou não, e é por isso que o peso de matar ou não, acaba se resumindo num único
momento que vai muito além de toda e qualquer filosofia ou teoria dada pelos
fãs (ou mesmo por mim): somente no momento em que o ato de matar alguém se faz
presente, é que o herói tem de enfrentar sua face no espelho e entender que, ao
transpor esse limite, ele se tornará um ditador, decidindo quem merece viver ou
quem merece morrer.
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