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O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller

 Por Arthur Lopes Filho

Quando falamos de Batman é incrível como o imaginário de um personagem sombrio, traumatizado e extremamente violento salta a mente, quase que de imediato, mas é igualmente surpreendente pensar que o personagem só passou a ter essas características após o ano de 1986, quando Frank Miller resolveu escrever a obra Batman – o Cavaleiro das Trevas.


Nesse período, Frank Miller já era conhecido na indústria dos quadrinhos, muito pelo seu traço e pela narrativa que ele aplicava nas suas produções, extremamente influenciadas pela cultura japonesa, sobretudo pela obra Lobo Solitário, de Kazuo Koike e Goseki Kojima.

Essa influência vai ser tão grande que ele vai trazer isso para o universo dos heróis estadunidenses, transformando para sempre tudo o que ele tocou. 

Na Marvel, ele reinventou o Demolidor, entre os anos de 1979 até 1983, introduzindo seu envolvimento com o clã de ninjas do tentáculo e outras questões profundas de seu passado que trouxeram uma dramaticidade única ao demônio de Nova York; e em 1982, junto com Cris Claremont, ele criou um dos arcos de histórias mais incríveis para o truculento e violento Wolverine, ao colocá-lo em uma história densa, sofrida e repleta de aprendizados, e que tem como pano de fundo, as tradições de todo um vasto universo japonês.

Já pela DC, Frank Miller havia lançado a Graphic Novel Ronin, desenhada e roteirizada por ele. Publicada entre 1983 e 1984, ela narra a história de um samurai que reencarna em um portador de necessidades especiais numa Nova York futurista e assustadoramente distópica. 


Com uma bagagem de produção invejável, Frank Miller, nesse período, estava pensando em produzir uma obra final para a sua carreira, assim, ele propôs escrever algo para o Batman, que na época, não estava em seu auge e contava com histórias triviais. E como a Crise nas Infinitas Terras havia sido encerrada há poucos meses, o cenário para uma mudança de paradigmas para o velho morcego estava pronto.

Altamente influenciado pela política dos EUA da década de 1980, que era governada por Ronald Regan, um político republicano, marcado por uma alto populismo e que incitava a guerra contra os inimigos internos e externos, além de defender uma espécie de elitismo cultural sobre as comunidades menos abonadas do país, sua política instigava a violência e proliferava um cenário de desconforto que Frank Miller imprimiu na atmosfera da Gotham City de sua HQ.

A história da HQ retrata um Bruce Wayne mais velho que se depara com uma Gotham extremamente desamparada, sofrida, com gangues formadas por jovens sem uma perspectiva de futuro que proliferam o caos sem apresentarem uma causa clara pela qual lutar. Frente a isso é que Batman resolve retornar as ruas, se tornando uma espécie de revolucionário, a fim de transformar aquela realidade.

É nesse cenário que Batman passa a ser um agente da transformação, dando uma causa pela qual lutar aos jovens da gang dos mutantes e transformando, ainda que de maneira violenta, a realidade de sua cidade. É devido a essa conduta que ele se torna uma ameaça pelo próprio presidente, que envia o Superman (agente do governo), para frear as ações do morcego.

Num combate frenético e repleto de momentos tensos que a imagem dos dois heróis ganham um caráter único e rompe com o paradigma de como eles vinham sendo representados até então. Superman, como alguém que, apesar da falência política de seu presidente, ainda assim luta pela manutenção de seu status e, em contraponto, Batman, como aquele que, mesmo sendo claramente alguém desprovido da imensidão de todo o poder possuído pelo super-homem e a nação que ele representa, se ergue frente a tudo isso e luta.

Após a Graphic Novel Batman – o Cavaleiro das Trevas, o imaginário do Batman mudou, a maneira que passamos a pensar sobre sua conduta superou em muito a face de um órfão multimilionário que combate o crime junto de um parceiro infanto-juvenil, para um personagem sombrio, traumatizado pelo seu passado e dotado de uma ideologia forte, que o faz lutar pela causa dos desamparados e menos providos, mesmo que isso o leve a ter de enfrentar o próprio Superman.

https://artursan.wixsite.com/meusite/post/o-cavaleiro-das-trevas-de-frank-miller


ARTUR RODRIGO ITAQUI LOPES FILHO
Master in Philosophy and History
Doctoral Student in History
Professor of Philosophy, History and Pop Culture
2 anexos
 
 


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