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Porque Tarzan gritava?

  Por Paulo Kobielski


Lembro que eram tardes de sábado. Todos nós, menininhos de sete, oito ou até dez anos de idade. Todos nós, sentadinhos no assoalho daquela sala. Todos nós muito agradecidos e extasiados pela oportunidade de poder estar ali naquele momento. Por mais que queira, não lembrarei o nome daquele televizinho, mas acredito que só podia ser uma pessoa boa. Era o único naquela rua de nossa infância edílica, que tinha um aparelho de televisão, e que possibilitou que pudéssemos assistir mais uma aventura do rei das selvas, Tarzan.

 Ah! O grito de Tarzan. Era único. Era tão importante pra nós, que chegamos a fazer concurso de melhor grito de “Rei das Selvas”.

Tarzan, sem dúvida, foi o maior personagem da cultura pop do século XX – Ih! Vai ter divergências. Enfim. Criação de Edgar Rice Borroughs que, até então, tinha tentando de tudo em sua vida, até finalmente se encontrar na literatura de ficção. Os pulps foram a porta de entrada. Revistas populares do início do século passado, essas publicações baratas e acessíveis a grande parte da população tinham um público cativo. Tarzan de imediato conquistou um grande número de leitores. A história de um menino órfão, perdido na selva africana, criado por gorilas e se tornado um deles, encantou não só o público norte-americano, como os inúmeros países onde essa história chegasse, seja no ocidente ou no oriente.


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Publicado pela primeira vez na revista All-Story Magazine, em 1912, Tarzan logo chamou atenção da indústria cinematográfica. Em 1918 chegava às telas “Tarzan, O Homem Macaco”, com Elmo Lincoln no papel do “filho das selvas”. A partir daí, Tarzan teve quase um filme por ano, contando os seriados de cinema. Foram muitos os atores que incorporaram o herói das selvas na grande tela, mas aquele que atraiu uma grande legião de admiradores e que marcou a vida de muitos de nós foi o ex - nadador olímpico Johnny Weissmuller. Weissmuller estreou nas telas em 1932 com “Tarzan, O Homem Macaco”, produção dos estúdios MGM. Estrelando doze produções do herói das selvas, até 1948, onde suas frases simples do tipo "me Tarzan, you Jane" e aquele grito espetacular ecoam até os dias de hoje em nossa memória.

E esse grito, não ficou famoso apenas no cinema. Quando Weissmuller deixou o papel de Tarzan e assumiu o clássico personagem Jim das Selvas, de Alex Raymond, astros como Lex Barker, Gordon Scott, Jock Mahoney, Mike Henry tiveram um papel importante na cinematografia de Tarzan. Mas, o “filho das selvas”, foi além da grande tela. Logo chegou a TV, na famosa série (1969/1971), com o “magrão” Ron Ely, conquistando um novo público. E foi na televisão que o personagem ganhou sua primeira animação. Os estúdios Filmation produziram, entre 1976 e 1977, a série animada Tarzan, Lord of the Jungle, sendo bem fiel ao texto original de Borroughs. Este desenho foi exibido no Brasil pelo canal SBT nas tardes dos anos 1980, e posteriormente voltando a ser exibido aos sábados, pela manhã. É lógico que não poderíamos deixar de falar da animação da Disney de 1999, do Tarzan que “surfava” nas árvores como se fossem grandes ondas e com suas longas “melenas” esvoaçantes. O personagem mostrou nessa bela produção todo seu vigor e contemporaneidade, arrebatando crianças e adultos, como eu, e meus filhos.

Além das telas, o “filho das selvas” invadiu as páginas das histórias em quadrinhos. Isso aconteceu em 1928 quando o artista Harold Foster, transportou o personagem para a nona arte. Primeiro na revista inglesa Tit-Bits, e no ano seguinte chegou às tiras de jornais norte-americanos. A partir de 1937, Foster foi substituído por Burne Hogarth. Influenciado por Michelângelo e pelo expressionismo alemão, Hogarth utilizou seus conhecimentos de anatomia para mostrar uma explosão de músculos, um turbilhão de movimentos, paisagens atormentadas, mas vibrantes, selvas fantasmagóricas e raízes com formas monstruosas. Além de Hogarth, muitos outros artistas se dedicaram ao personagem, como Russ Manning, por exemplo. Mestre absoluto do preto e branco, Manning desenvolveu uma visão moderna do herói, sem os barroquismos de Hogarth. Mas poucos conseguiram capturar a essência da figura humana em sequências de ação como Joe Kubert. Seu expressivo talento encontra-se plenamente exposto nas HQs do Tarzan da década de 1970 - que para mim, são as melhores já produzidas do “homem-macaco” até hoje.

Tarzan apareceu em muitas revistas em quadrinhos de várias editoras. Em 1947, o personagem foi publicado pela Dell Comics em parceria com a Western Publishing. Em 1962 a parceria Dell e Western foi desfeita, e logo foi criado pela Western, o selo Gold Key Comics. Tarzan foi um dos grandes títulos publicados pela Gold Key nesse período. Entre dezembro de 1964 e julho de 1965, a Charlton Comics publicou a revista Jungle Tales of Tarzan. Em 1972, a DC consegue a licença de Tarzan e inicia uma série de quadrinhos produzida por Joe Kubert. Em 1977, a DC publica seu último número de Tarzan, encerrada na edição 259. Nesse mesmo ano o personagem passa a ser publicado pela Marvel Comics. Na Marvel a numeração é reiniciada, a revista teve 29 edições e possuía arte de John Buscema. Isso mesmo, ele desenhou o rei das selvas.

É enorme o rastro deixado por Tarzan dos Macacos nesses mais de 100 anos de aventuras com seu grito aterrorizante. Aliás, por que Tarzan grita? Nas histórias de Borroughs e no cinema, o personagem usa o grito como uma vitória do grande macaco ou para chamar outros animais, mas principalmente porque era um grito de rei da selva, um grito de Tarzan, suficiente para amedrontar os malfeitores. E quais seriam os malfeitores que Tarzan teria de combater nesses dias? Seriam os caçadores que exterminam as raras espécies de animais, como as últimas duas girafas brancas no Quênia, ou aqueles que deixam elefantes agonizando para levar um par de suas enormes presas brancas, que são vendidas a preço de ouro no mercado negro? Ou seriam os grileiros que derrubam florestas e avançam sobre as reservas indígenas? Ou ainda seriam os grandes latifundiários que se utilizam das queimadas para ampliar sua área de plantio e acabar com parques de preservação ambiental? Pobre Tarzan! Depois que abriram a porteira, ele ficou só. E o seu grito, preso na garganta.

 

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Comentários

Mackenzie Melo disse…
Adorei o artigo, Paulo. Muito legais as referências e o contexto que você nos mostra.

Refletindo no final do seu texto, pensei em o quanto o mundo de Pandora na mitologia de Avatar é similar às lutas que Tarzan teve ou teria. Jake Sully, Neytiri, Tsu'tei e os animais naquele mundo lembram o mundo de Tarzan, ou o que seria sua luta nos dias de hoje contra o avanço e destruição das matas e florestas.

Obrigado pelo texto.

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