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O preconceito racial e a abordagem policial em Falcão e o Soldado Invernal

 Por Arthur Lopes Filhor

Imaginem a cena, você está caminhando na rua com seu amigo e, no calor do momento, os dois começam a ter uma conversa mais acalorada. Nesse momento, um carro da polícia aborda vocês e dois policiais saltam do carro e um deles olha para você e diz: ele está te incomodando? Então você percebe que você e os policiais são brancos e seu amigo é o único negro envolvido naquela situação, e que automaticamente foi considerado (pelos policiais) uma ameaça, o que fez eles olharem pra você (e não para ele), e perguntarem: você está bem? Como se dissessem, nas entre linhas: esse negro está lhe causando algum transtorno?


Pois bem, essa cena ganhou grande destaque no segundo episódio da série da Netflix Falcão e o Soldado Invernal, e ressalta, em crítica, algumas das ocorrências mais comuns vividas pelos negros nos EUA. A série foi lançada no ano de 2021 e coloca em evidência questões pulsantes referentes ao cenário estadunidense desse período, a exemplo da morte de George Floyd, segurança negro morto por asfixia em uma violenta e desmedida abordagem policial, por conta de uma suposta tentativa de Floyd em utilizar uma nota falsa em uma simples compra numa mercado. O uso da extrema violência policial contra Floyd ganhou maior destaque, dado o fato dos agentes policiais envolvidos serem todos brancos e trouxe a tona questões referentes ao preconceito estrutural, manifesto na maneira com que a abordagem policial se deu, o que ocasionou a morte de uma pessoa.

A morte de Floyd destaca o preconceito enraizado que considera o negro, sempre uma ameaça em potencial. Que enxerga na tonalidade distinta da pele, alguém que deve ser observado pois simboliza a possibilidade do crime e da violência, o que leva o preconceituoso a ter uma ação preventiva, isto é, olhar para o negro e agir antes, prender antes, inutilizar antes e inclusive matar antes.


Na cena, o policial que aborda o Falcão e o Soldado Invernal aparenta assumir exatamente essa mesma conduta, como que buscando proteger Bucky, o rapaz branco, da possível ameaça representada por Sam, o homem negro; tudo isso antes de buscar entender a situação. A cena avança quando o policial pede a documentação do Sam e fica o instigando a cumprir sua demanda, na medida em que seu tratamento com Bucky é bem mais brando e menos violento.

Tudo muda apenas quando os policiais percebem que estão abordando dois heróis e quase que de imediato, a conduta se torna mais amigável e tudo encerra em um irônico e indigesto mal entendido.

Ainda que a série tenha como história principal a luta contra o terrorismo e a ascensão do Falcão como o novo Capitão América, o tema do preconceito racial ganha destaque, na medida em que o futuro Capitão América, e estamos falando de Sam Wilson, o Falcão, acabaria por representar uma nação onde o preconceito se encontraria ainda enraizado, atuante, inclusive contra ele, o levando a questionar se ele deveria, de fato, carregar o escuda dessa nação que, infelizmente, na ação de alguns, ainda o veem como uma constante ameaça, pelo simples fato de ser um negro.


https://artursan.wixsite.com/meusite/post/o-preconceito-racial-e-a-abordagem-policial-em-falc%C3%A3o-e-o-soldado-invernal


ARTUR RODRIGO ITAQUI LOPES FILHO
Master in Philosophy and History
Doctoral Student in History
Professor of Philosophy, History and Pop Culture
2 anexos
 
 



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